Festa da Lavagem da igrega do Bonfim reúne 1 milhão de pessoas em Salvador

LUIZ FRANCISCO
Colaboração para o UOL, em Salvador

Vestidas em sua maioria de branco, cerca de 1 milhão de pessoas, de acordo com estimativas da Polícia Militar, participaram nesta quinta-feira (14) da segunda maior festa popular da Bahia, depois do Carnaval, a lavagem das escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Os festejos começaram com a realização de um culto ecumênico em frente à igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Em seguida, os fieis iniciaram um ritual que se repete há mais de 250 anos: a caminhada de oito quilômetros até o templo mais famoso da Bahia.

  • João Alvarez/UOL

    Fieis se reúnem em frente à igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia em Salvador, no início dos festejos da lavagem das escadas da igreja de Nosso Senhor do Bonfim nesta quinta-feira (14)


Sob um calor de 32º e entoando cânticos ligados ao candomblé, cerca de 500 baianas, todas vestidas a caráter e carregando vasos com água de cheiro, puxaram o cortejo, que também foi acompanhado por políticos. O governador Jaques Wagner (PT), o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), o senador César Borges (PR), o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB), o ex-governador Paulo Souto (DEM) e o corregedor da Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), participaram da caminhada, acompanhados de lideranças dos seus respectivos partidos. Cansado, o prefeito desistiu de caminhada antes de o cortejo chegar à igreja.

"Como faço todos os anos, aproveitei a caminhada para rezar e pedir ao Senhor do Bonfim muita paz para os baianos", disse o governador Jaques Wagner, que não participou do ato ecumênico. "A simbologia desta festa, que é um exemplo de tolerância religiosa, transcende as fronteiras do Brasil", afirmou o deputado ACM Neto. Sob a liderança do ministro Geddel Vieira Lima, o PMDB utilizou a festa para provocar o governador Wagner - os dois políticos estão rompidos desde o ano passado. Os militantes do PMDB usaram camisetas com a frase "A Bahia merece ter paz", numa alusão aos crescentes índices de violência no Estado.

Turistas e baianos revonam pedidos no dia do Bonfim

Em meio às manifestações de estudantes, professores, policiais civis e sindicatos, que aproveitam a visibilidade da festa para fazer suas reivindicações, um fato chamou a atenção dos participantes da caminhada: pela primeira vez os jegues e cavalos, que puxam carroças enfeitadas, foram fiscalizados pela prefeitura. Esta semana, uma ação popular movida pelo Ministério Público e entidades ligadas à defesa dos animais tentou impedir a participação dos equinos nos festejos.

A ação foi rejeitada, mas a Justiça da Bahia transferiu à Prefeitura de Salvador a responsabilidade de fiscalizar os animais para evitar eventuais maus tratos, sob pena de pagar uma multa de R$ 50 mil. Cerca de 2.300 policiais militares foram mobilizados para garantir a segurança dos participantes da lavagem do Bonfim. Os estabelecimentos comerciais, as agências bancárias e as repartições públicas instalados ao longo de todo o percurso da festa não funcionaram nesta quinta-feira, em Salvador.

O cortejo chegou à igreja do Bonfim por volta das 13h (horário de Brasília). Minutos depois, as baianas começaram a lavar as escadarias do templo, sob aplausos da multidão. Para evitar a destruição de imagens sacras e garantir a segurança dos fieis, desde 1890 as portas da igreja permanecem fechadas durante a festa. No entanto, a exemplo do ano passado, o padre Edson Menezes da Silva abençoou a manifestação popular, do alto de uma das janelas da igreja. "Não podemos fechar os olhos e fingir que a festa não existe. Temos de recuperar o espaço perdido pela igreja na festa que idealizamos há mais de dois séculos", afirmou.

História
O culto ao Senhor do Bonfim remonta a 1745, quando o capitão-de-mar-e-guerra Theodósio Rodrigues de Faria prometeu construir um templo caso sobrevivesse a uma tempestade. No ano seguinte, as obras da capela foram iniciadas, mas a sua conclusão somente aconteceu em 1772. Os ambulantes e desempregados aproveitaram a festa para aumentar o seu faturamento. Nesta quinta-feira, uma cerveja era comercializada por R$ 5, 80% a mais do que o preço convencional. A água mineral, um dos produtos mais consumidos pelos fieis durante a caminhada, sofreu um reajuste de 100%, passou de R$ 2 para R$ 4. Outros produtos muito procurados pelos fieis foram bonés, chapéus, protetor solar e óculos de sol.

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