Escola de samba Beija-Flor homenageia Brasília no Carnaval 2010

Do UOL, no Rio

Em homenagem aos 50 anos da construção da capital federal, a Beija-Flor de Nilópolis vai levar para a Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, o enredo "Brilhante ao sol do novo mundo, Brasília do sonho à realidade, a capital da esperança". A escola será a última a desfilar no domingo (14/2).
  • Marcos Pinto/UOL

    Detalhe do carro abre-alas com o índio Tupã enfurecido de ciumes. A escultura tem cerca de 18 metros de comprimento (13/1/2010)


Engana-se quem pensa que a escola virá com poucas cores e nos tons cinza como sugere a estética de Brasília. Alexandre Louzada, da equipe de carnavalescos da Beija-Flor, diz que ao sobrevoar a capital de helicóptero, em junho de 2009, descobriu que ela é branca, quase cintilante. Já em terra firme, percebeu que Brasília conta com uma cultura eclética com diferentes sotaques de pessoas de todos os cantos do país. O enredo vem com muito espelho e bem colorido.

O carnavalesco também recorreu à história, aos mitos, à ancestralidade e ao misticismo para a criação do enredo. O beija-flor, figura presente nos últimos três anos da escola no abre-alas, foi substituído pela lenda de Paranoá, sobre os índios da tribo goiazes. No carro, há o índio Tupã que, furioso de ciúmes, joga seus feitiços contra a índia Jaci, transformando-a em lua e o índio Paranoá em lago. O abre-alas, um dos maiores da história do Carnaval, será composto por três carros acoplados, totalizando cerca de 60 metros de extensão, e esculturas de até 18 metros de comprimento.

Neste ano, a figura do beija-flor deu lugar à outra ave, a Íbis, que era sagrada para os egípcios. Em suas pesquisas para o enredo, realizadas desde março de 2009, Louzada diz que é possível observar semelhanças entre a transferência da capital do Egito, no período de 3.500 anos a. C., e a do Brasil. O tema será retratado no carro alegórico que virá após o abre-alas. "A história da construção de Brasília é muito parecida com a cidade de Aketaton, que foi erguida no interior do país, demorou quatro anos para ficar pronta, assim como Brasília, e virou a capital política do Egito Antigo", afirma Louzada, que faz parte da comissão de Carnaval responsável pelo desfile ao lado de Fran-Sérgio, Laíla e Ubiratan Silva.

A política está praticamente fora do enredo desde o início dos trabalhos. O único a ser mencionado será Juscelino Kubitschek, por conta de seu lado empreendedor. "Seria muito chato eu ficar só na política e nas obras arquitetônicas. Claro, que a arquitetura está presente no enredo, mas quis homenagear todos os visionários que apostaram na mudança, em todas as 65 mil pessoas que deixaram seus lares para uma nova vida em Brasília, formando assim um povo miscigenado e com diversas expressões folclóricas e culturais", dispara Louzada.

O carnavalesco também diz que o desejo é mostrar um lado de Brasília que as pessoas não conhecem. Uma das inspirações para ele foram os poemas de Clarice Lispector sobre Brasília. "A ideia de levar a capital para o interior já era antiga, começou com os inconfidentes. José Bonifácio, logo após a independência, batizou de Brasília o nome da futura capital do país. Floriano Peixoto mandou a expedição Louis Cruls, que demarcou o território que hoje se conhece do Distrito Federal. Só anos depois que Juscelino Kubitschek realizou o antigo sonho", conta.

São oito carros alegóricos e 40 alas com 3.700 integrantes. Nos carros não faltarão os canteiros de obras com operários construindo Brasília em seus andaimes e gruas, assim com seus ícones como Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Juscelino Kubitschek. Também haverá um caldeirão gigante de onde saem bandas de rock como Legião Urbana, o Festival de Cinema, o bumba-meu-boi e outras representações culturais de Brasília.

Louzada diz acreditar que duas alas, em especial, chamarão atenção. Uma delas sobre os candangos que foram construir e povoar Brasília numa espécie de encenação teatral. Nela, virão operários, mulheres, crianças, padres, cozinheiras, prostitutas. Serão 200 pessoas que não virão fantasiadas, mas sim com roupas cênicas, segundo o carnavalesco. A outra em homenagem ao casal Juscelino e Sara Kubitschek, representando o final dos anos dourados. Os integrantes da ala estarão com roupas de baile endurecidas semelhantes às estátuas viva.

Polêmicas à parte

Quanto à polêmica publicada pela imprensa nacional sobre denúncia de superfaturamento do patrocício do governo federal, a escola diz que não ter qualquer relação. A Beija-Flor venceu o edital que previa a verba de R$ 3 milhões, segundo a assessoria de imprensa.

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