"Brasil deveria saber mais sobre Sérgio Vieira de Mello", diz Wagner Moura
De Pablo Escobar a Sérgio Vieira de Mello, de dar vida a um criminoso em "Narcos" a interpretar um herói da ONU. Assim Wagner Moura encarou "Sergio", filme da Netflix sobre o diplomata brasileiro que, segundo o ator, deveria ser muito mais reconhecido no próprio país de origem.
"É um herói nacional, mas acho que as pessoas no Brasil deveriam saber mais sobre quem foi Sergio, e acho que esse filme pode ajudar nisso", opinou Moura em entrevista à Agência Efe durante o Festival de Sundance, na cidade de Park City, nos Estados Unidos, onde apresentou o filme.
Resultado de um projeto muito pessoal de Wagner Moura, como ator e produtor, "Sergio" estreia nesta sexta-feira na plataforma de streaming.
A nova produção da Netflix americana é um filme biográfico sobre Sérgio Vieira de Mello, que trabalhou durante décadas para as Nações Unidas na resolução de conflitos em países como Timor-Leste e Camboja, e que morreu em um atentado no Iraque em 2003, quando era o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos.
Moura dá vida a Sergio em um longa-metragem dirigido por Greg Barker e que conta com a cubana Ana de Armas como coprotagonista, interpretando a argentina Carolina Larriera, ex-funcionária da ONU e que teve um relacionamento com o diplomata brasileiro.
"Este filme faz parte de uma espécie de ideia mais ambiciosa que tenho de produzir sobre latinos que não reforcem estereótipos sobre nós. E acho que 'Sergio' é um primeiro passo extraordinário", comentou.
"Sergio" vai e volta no tempo: mostra a missão do diplomata no Iraque, na qual morreu, e recorda outras missões na ONU, entrelaçando o trabalho com momentos importantes da vida pessoal.
"A vida dele foi uma aventura, embora não tenha sido uma aventura tipo James Bond. Ele estava em campo o tempo todo. O negócio dele era ir a cada lugar e olhar as pessoas como pessoas, não como estatísticas ou números", descreveu.
Nas palavras de Wagner Moura, o diplomata mudou muito ao longo da trajetória, desde os anos quase "revolucionários" como estudante em Paris durante maio de 68 até chegar à ONU.
"Acho que é algo que acontece com todos nós em certo ponto: a quantidade de idealismo muda, e ele se tornou mais pragmático. Acredito que ele sabia que a ONU muitas vezes não tem o poder. É uma grande organização que às vezes não se mexe tão rápido como deveria para solucionar problemas e que depende muito dos países ricos. Mas, ainda assim, é uma organização de direitos humanos que se esforça para garantir que as pessoas sejam tratadas com igualdade", frisou.
Diante de um diplomata que defendia o diálogo, a empatia e a serenidade, Wagner Moura ironizou quando questionado se poderia comparar Sérgio Vieira de Mello com alguns líderes atuais.
"Meu Deus, é realmente fácil compará-lo com (Donald) Trump ou (Jair) Bolsonaro. Ele foi um tipo de líder que não vejo mais hoje em dia, nem sequer na ONU", argumentou.
O ator também mencionou a complexa vida pessoal do personagem, uma parte muito abordada no filme e onde se sobressai o trabalho de Ana de Armas.
"Ela foi muito importante para ele. Nunca permitiu que nenhuma outra mulher, além de sua esposa, se aproximasse tanto como Carolina. Ela mudou a vida dele quando se conheceram no Timor-Leste", explicou o brasileiro sobre uma mulher que, apesar de não ter se casado com o diplomata, foi reconhecida oficialmente como sua viúva.
"Para nós, foi realmente difícil equilibrar o aspecto político de Sergio com sua parte mais íntima. Acho que a presença de Ana de Armas é muito forte. Ela brilha de uma maneira muito bonita. É uma atriz extraordinária. Ficamos amigos e foi um prazer trabalhar com ela, é uma das melhores atrizes com as quais já trabalhei e abrilhantou o filme", descreveu.
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