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Turquia censura livro Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes: "Obsceno"

Historias de Ninar Para Garotas Rebeldes - Divulgação
Historias de Ninar Para Garotas Rebeldes Imagem: Divulgação

Da EFE, em Istambul

06/10/2019 07h31

O governo da Turquia decidiu censurar o best-seller internacional Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes, escrito pelas autoras italianas Francesca Cavallo e Elena Favilli, por considerá-lo "obsceno" para crianças.

A União de Editores da Turquia denunciou neste sábado a decisão das autoridades locais, que determinaram que o livro só pode ser vendido para maiores de 18 anos. Para a organização, a medida representa "mais um passo" no movimento de censura promovido pelo presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, contra a sociedade.

A obra censurada é uma biografia de 100 mulheres históricas, que vai de Cleópatra a Malala Yusufzai, passando por Coco Chanel e Frida Kahlo. Destinado a crianças maiores de 6 anos, o livro foi publicado inicialmente em inglês e traduzido para 30 idiomas, entre eles o português, vendendo mais de 1 milhão de exemplares em todo o mundo.

O Conselho de Proteção das Crianças contra Textos Prejudiciais para a Infância, órgão vinculado ao Ministério de Assuntos Sociais da Turquia, classificou o livro como perigosos e resolveu proibir a venda para menores de 18 anos, uma medida aplicada habitualmente para conteúdos pornográficos.

"É um grande erro. É claramente um ato de censura, uma decisão tomada por um pequeno grupo conservador do ministério", afirmou Ilbay Kahraman, dono da editora Ayrintilar, uma das empresas que faz parte da União de Editores da Turquia.

Além de determinar que o livro só seja vendido para maiores de 18 anos, o governo turco também ordenou que Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes não seja exibido em vitrines. O livro também deve ser embalado com um plástico opaco pelas livrarias.

A Agência Efe constatou que, nos sites das grandes livrarias turcas, a obra vetada já consta como indisponível.

"Experimentamos vários passos de pressão e de autocensura. O primeiro é o assédio por parte de uma rede de associações e veículos de imprensa pró-governo. E, quando um editor é valente e enfrenta isso, vêm as decisões judiciais", lamentou Kahraman.

"Eu publiquei um livro infantil da escritora sueca Katerina Janouch que explica de onde vêm os bebês. De repente, teve início uma campanha de sindicatos de professores e de mulheres ligadas ao Partido Justiça e Desenvolvimento (liderado por Erdogan), que afirmavam que a obra era prejudicial para as crianças. Essa pressão já provoca uma forte autocensura. Muitos não querem correr o risco", contou o editor.