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Segredos de beleza de Nefertiti e Cleópatra chegam ao século XXI

27/08/2019 11h36

Cairo, 26 ago (EFE).- Os banhos de leite hidratantes de Cleópatra e o kajal negro de Nefertiti são só pequenos exemplos dos mil e um truques de beleza utilizados pelos antigos egípcios de todas as classes sociais.

A obsessão pela beleza - interior e exterior - era tão grande que até as múmias recebiam cuidados, e essa corrente que dominava a época representava as pessoas como elas gostariam chegar à outra vida: jovens e saudáveis.

Por causa disso, muitos bebês eram batizados com a palavra "nefer", ou "beleza". Desde a madrasta de Tutancâmon, Nefertiti ("a mais bela chegou"), até a esposa favorita de Ramsés II, Nefertari ("a mais bela de todas"), explicou Engy el-Kilany, professora de Egitologia da Universidade de Minia, no vale do Nilo.

A maquiagem e os perfumes não se limitavam à realeza. Homens e mulheres de todos os elos da sociedade usavam e se interessavam pelas últimas tendências.

"Todos usavam maquiagem, se penteavam, usavam perfume e acessórios. A diferença estava na qualidade dos materiais utilizados", detalhou Kilany.

Mas como sabemos tudo isto? Graças a papiros de medicina como o de Edwin Smith e o de Berlim, que "preservaram estas receitas para nós", acrescentou.

Banhos, banhos e mais banhos de água e produtos que às vezes serviam como sabonete eram fundamentais na rotina dos antigos egípcios, assim como os cuidados com os cabelos, meticulosamente penteados e perfumados com fragrâncias.

Todas as noites, antes de se deitarem, os egípcios colocavam em prática todo um ritual de beleza, talvez até mais caprichoso que a rotina contemporânea. Primeiro, era preciso lavar o rosto. Depois, tirar a maquiagem utilizando uma loção feita a base de leite e, depois, aplicar uma máscara.

As de leite e mel eram mais utilizadas pelos ricos, enquanto o óleo de rícino, muito acessível, era um item básico de qualquer amante dos cuidados faciais.

Quem podia investir não resistia aos encantos do olíbano, ou "frankincense", uma resina aromática que era utilizada para suavizar a pele e prevenir rugas.

Os antigos egípcios conheciam quase 30 óleos naturais e tinham inclusive curativos e unguentos para as cicatrizes, e exfoliantes para limpar profundamente a pele.

Embora também tivessem lápis verdes para os olhos, a estrela da necessaire egípcia era o "kohl", o delineador preto mineral galena, que dava o ar de profundidade no olhar que foi eternizado no cinema.

Um estudo recente publicado pelo "Nature Journal" após analisar os restos de "kohl" encontrados em uma tumba de 4 mil anos revelou uma caixa de Pandora entre os egiptólogos.

"Encontraram galena (um dos principais minerais de chumbo) e outros dois elementos que não são encontrados naturalmente, e descobriram que eram feitos através de uma ciência chamada 'química úmida', era produzido artificialmente", afirmou.

Daí chegou a grande revelação: "os antigos egípcios foram os primeiros a utilizar a química úmida", um processo que consiste em provocar uma reação química usando umidade e líquidos.

O famoso lápis tinha dupla função: além de embelezar, era utilizado para afastar os olhos de insetos e outros males. Alguns desses truques chegaram ao Egito de 2019 através de salões que oferecem "massagens faraônicas" ou vendedoras de rua que têm entre os seus produtos "kohl" de galena, vendido em delicados tubos com aplicadores.

Inclusive, há uma marca de cosmética natural que oferece uma linha de produtos "do Antigo Egito", chamada Nefertari. Uma porta-voz, Lauranne Amr, garantiu que a marca só utiliza produtos "100% naturais, 100% egípcios e 100% feitos à mão", como o emblemático kajal faraônico, macerado em azeite de oliva durante seis meses, mas sem chumbo.

A mesma empresa também comercializa o "banho de leite" de Cleópatra: um recipiente de barro igual ao que que está exposto no Museu Egípcio do Cairo, com uma fórmula a base de leite, aveia e amêndoas doces. EFE