Política, narcotráfico, violência: Mostra em SP retrata realidade latino-americana
A turbulência política do Brasil, a resiliência das vítimas de violência no México e a idealização do narcotráfico colombiano são alguns dos temas retratados na mostra fotográfica "Ainda Há Noite", em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, e que desafiou 12 artistas a repensarem a noite latino-americana para falar das realidades de seus países.
"A vigília é o momento em que os sonhos começam a se confundir com a realidade. Afloram os pesadelos, afloram determinados momentos, e a pessoa tem certa lucidez para entender a realidade de outra forma", explicou à Agência Efe um dos curadores da exposição, o pesquisador de arte catalão Claudi Carreras.
"Ainda Há Noite" é composta por mais de 300 imagens feitas por artistas latino-americanos ou que trabalham na região. De acordo com o pesquisador, ela serve para medir a criação visual da região e, ao mesmo tempo, apresentar diferentes olhares sobre uma mesma temática.
Organizada pelo paulista Iatã Cannabrava e por Carreras, a exibição ficará aberta até 11 de agosto como parte do 5º Fórum de Fotografia Latino-Americana de São Paulo. A seleção de artistas é uma aposta em uma geração jovem - todos têm entre 25 e 45 anos - sem grandes nomes consolidados, mas em plena ebulição. "Para mim, esta é a geração propositiva que neste momento está construindo o universo na imagem da América Latina", afirmou.
Carreras classificou assim autores como Yael Martínez, fotógrafo mexicano com histórico de retratos da violência de um dos estados mais conturbados do seu país, o de Guerrero. "Luciérnaga" é um dos sete trabalhos criados por ele para a exposição e aborda o tema da violência "a partir de uma perspectiva de superação", segundo Carreras. "A ideia é um pouco como aquela luz que toda pessoa que sofreu um ato de violência precisa para seguir adiante", explicou.
As fotografias são imagens noturnas de pessoas de perfis muito diferentes, todas perfuradas por pequenos orifícios que deixam passar a luz colocada atrás delas, de modo que, como se fossem pequenos vaga-lumes, aparecem e desaparecem de acordo com a distância que a pessoa que aprecia toma das imagens.
Perto dali está a obra do colombiano Jorge Panchoaga, "Historia Natural del Silencio". Dentro da particular composição de dezenas de fotografias em negativos cinza, vermelho e azul sobrepostos, é possível ver, por exemplo, o cavalo empalhado do traficante colombiano Pablo Escobar na sala de seu taxidermista, onde nunca chegou a buscá-lo.
Para Carreras, esta peça é o retrato, através de diferentes camadas da história, da normalização e idealização do universo do tráfico de drogas na Colômbia nos anos 80, quando o autor era criança.
Outros artistas da mostra são Cristina de Middel (Espanha) e Bruno Morais (Brasil), que criaram "Boa Noite, Povo" através de colagens e que misturam imagens de insetos e animais selvagens com paisagens do Rio de Janeiro. "Aqui foi misturada a natureza exuberante do Brasil e a necessidade de se reinventar", explicou o curador sobre o trabalho da dupla.
Outra dos talentos da exposição é a gaúcha Luisa Dörr, descoberta através do Instagram pela qualidade do material que produzia com um smartphone. Em 2017, a artista ganhou projeção internacional ao ser convidada pela aclamada revista "Time" para fotografar 46 americanas pioneiras e influentes, como a apresentadora de TV Oprah Winfrey e a política Hillary Clinton. Doze dessas fotos foram para capas da publicação, no projeto "Firsts".
Em "Ainda Há Noite", ela propõe sua particular visão da noite através de "Basal", que reúne retratos dos trabalhadores que mantêm a cidade de São Paulo funcionando quando quase todas as outras pessoas dormem.
Um segurança que olha desafiante para a lente com um cigarro na boca, uma recepcionista de hotel com o telefone na mão e duas policiais são alguns dos personagens escolhidos pela fotógrafa.
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