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Arqueólogos dos EUA encontram restos do último navio de escravos africanos

26/05/2019 21h46

Atlanta (EUA), 26 mai (EFE).- Mais de um século depois de seu naufrágio, os restos do que é considerado o último navio que transportava da África escravos para os Estados Unidos foram encontrados no Alabama, para alegria dos descendentes da tragédia.

Esta semana, a Comissão Histórica do Alabama anunciou que no rio Mobile foi encontrado o que se avalia como os destroços do Clotilda, embarcação que em 1860 transportava 110 africanos para o território americano - meio século depois de a importação de escravos ser proibida - e que foi queimada por ordem de seu capitão, William Foster.

"A evidência física e legista sugere fortemente que este é o Clotilda", disse à rádio pública "NPR" James Delgado, arqueólogo marinho que participou da pesquisa.

Apesar de não haver vestígios do nome Clotilda nos destroços encontrados, a equipe de pesquisadores fez testes que a levou a afirmar que se trata daquele navio que, segundo os registros históricos, após navegar quatro meses no Atlântico foi queimado para esconder a evidência do crime.

Os restos da embarcação encontrada em junho do ano passado mostram pistas de ter sido, efetivamente, queimada, que era uma das principais características que os investigadores procuravam.

O Clotilda foi o último navio do qual se tem registro de ter transportado escravos da África para os EUA, país que proibiu a importação no ano de 1808.

Timothy Meaher, um rico fazendeiro e construtor naval do Alabama, foi quem projetou o plano e recrutou outros empresários descontentes com o aumento do preço dos escravos nos EUA, após o veto à importação desde a África.

O anúncio de quarta-feira passada sobre o Clotilda foi recebida com alegria pelos descendentes das vítimas da viagem, uma travessia que reflete "uma das épocas mais obscuras da história moderna", como disse a diretora-executiva da comissão no Alabama, Lisa Demetropoulos Jones.

"Os descendentes dos sobreviventes do Clotilda sonharam com esta descoberta por gerações", afirmou Lisa durante uma conferência após o anúncio.

Os africanos transferidos como escravos e que sobreviveram ao incêndio e naufrágio da embarcação criaram uma comunidade em Mobile, Alabama, chamada Africatown.

Um dos últimos sobreviventes do Clotilda foi Cudjo Lewis, que foi entrevistado em 1927 pela antropóloga Zora Neale Hurston, a quem narrou os horrores que viveu durante a terrível travessia e que depois a investigadora incluiu no seu livro "Barracoon".

Um ano atrás, um grupo de arqueólogos pensou que tinham encontrado os restos do Clotilda, mas após vários testes os pesquisadores determinaram que não se tratava daquele navio. EFE