Com críticas políticas e ao próprio Carnaval, escolas fecham desfiles no Rio
María Angélica Troncoso.
Rio de Janeiro, 5 mar (EFE).- A crítica política e social, o enaltecimento para os heróis anônimos do Brasil e as homenagens a Marielle Franco, a vereadora negra e lésbica cujo assassinato segue impune quase um ano depois, foram os destaques do segundo e último dia dos desfiles do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí.
Uma sátira política inspirada em uma lenda do estado do Ceará, e a reivindicação dos índios, negros e mulheres como heróis desconhecidos do país, receberam os aplausos dos 72 mil espectadores que lotaram as arquibancadas do Sambódromo na noite de segunda e madrugada de terça-feira, vibrando com a originalidade e a criatividade dos desfiles.
Duas escolas se destacaram, colocando em evidência o problema político e social que vive o país, onde dezenas de deputados e congressistas são investigados por corrupção e a pobreza se concentra nas comunidades carentes, habitadas na sua maioria por negros.
A Paraíso do Tuiuti, inspirada em uma lenda onde um bode acaba sendo eleito vereador, criticou os truques políticos que têm se estendido pela história do Brasil, enquanto que os heróis desconhecidos de ontem e hoje tiveram voz e vida com a Estação Primeira de Mangueira.
Com bandeiras que mostravam seu rosto, a vereadora Marielle Franco, brutalmente assassinada a tiros no dia 14 de março do ano passado, no Rio de Janeiro, foi homenageada pela Mangueira como uma heroína que permanecerá viva pela sua luta pelas minorias e por denunciar os abusos das forças de segurança nas comunidades.
A Tuitui também ironizou o atual governo, com um bode usando uma faixa presidencial, em uma alusão direta ao presidente Jair Bolsonaro, e criticou sua mensagem armamentista, o convidando a colocar flores em vez de balas nas armas de fogo.
A crítica foi além da política e chegou ao coração da maior festa do Brasil por parte da São Clemente. A escola, que abriu o segundo dia de desfiles, questionou a comercialização tipo "Hollywood" do Carnaval, mostrando os custos e as exuberâncias que deixaram de lado a tradição e a cultura popular.
Uma das mais tradicionais escolas do Rio, a Portela levou para a avenida a vida e obra da cantora e compositora Clara Nunes, uma das vozes mais reconhecidas do Brasil e também um dos nomes mais importantes da história da azul e branco de Madureira.
A criatividade e a originalidade mostradas nas fantasias destacaram-se em cada uma das alas que compuseram o desfile, destacando a dedicada a Oxum, deusa do amor, e a que homenageou a França, uma ala cujas fantasias foram criadas em colaboração com o estilista Jean-Paul Gaultier.
Outra agremiação que se destacou neste último dia de desfile do Grupo Especial foi a Vila Isabel, que homenageou Petrópolis, município da Região Serrana da Rio, Cidade Imperial, onde a Princesa Isabel, assinou em 1888 a Lei Áurea, encerrando a escravidão no país.
O desfile se referia ao Brasil sonhado por Pedro II e também destacou a luta enfrentada por Marielle Franco contra as injustiças, desigualdades e discriminação.
As histórias de dois expoentes da literatura brasileira, Rachel de Queiroz e José de Alencar, além do estado de origem deles, o Ceará, inspiraram a apresentação da União da ilha, enquanto que a Mocidade Independente de Padre Miguel, escola que encerrou o segundo dia dos desfiles na Sapucaí, mostrou a relação entre a humanidade e o passagem do tempo.
Agora as 14 escolas do Grupo Especial aguardam a decisão dos juízes, que será divulgada amanhã à tarde, quando será conhecida a grande campeã do Carnaval do Rio de Janeiro em 2019. EFE
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