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Passeio guiado revela histórias de amor e desamor em cemitério de Lisboa

14/02/2019 06h02

Mar Marín.

Lisboa, 14 fev (EFE).- Amor e desamor são palavras que combinam com o tour "Até que a morte nos separe", um romântico passeio oferecido pelo Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, durante o Dia de São Valentim, o equivalente ao Dia dos Namorados no Brasil.

"Aqui é onde tudo termina, mas também onde tudo começa", disse Licínio Fidalgo, historiador e guia do maior cemitério da cidade, que pretende atrair apaixonados de todo o mundo durante a data, comemorada em 14 de fevereiro.

O cemitério merece uma visita com ou sem o amado. E por isso, pouco importa que boa parte dos protagonistas das histórias de Licínio não esteja no local.

Com impressionantes vistas da Ponte 25 de Abril e do rio Tejo, o Prazeres tem ruas limpas, árvores e uma arquitetura monumental que gera uma atmosfera convidativa para a reflexão. É aqui que descansam grandes nomes da história portuguesa, artistas, policiais e bombeiros.

Em um túmulo construído com pedras, plantas e uma cruz, está Elise Hensler, a segunda esposa de Fernando II. Ela, suíço-americana, cantora de ópera e com uma filha cujo pai não registrou. Ele, um rei viúvo e amante das artes.

Não foi uma relação bem vista, por isso Fernando esperou que o seu filho Pedro assumisse o trono para se casar com Elise, a renomada condessa de Edla.

"Foram duas almas gêmeas. Todo o romantismo da Serra de Sintra se deve a eles", revelou Licínio.

Com a morte de Fernando, Elise se mudou para Lisboa com a filha Alice, que todos pensavam ser sua sobrinha. "Só no leito de morte que ela revelou que era a verdadeira mãe de Alice", contou Licínio.

O casal ficou junto até o fim, mas Fernando foi enterrado ao lado de primeira mulher, a rainha Maria II, no Panteão Real, na cidade de Alcobaça.

Já a história de Francisca ultrapassou fronteiras. Ela é a "Fanny Owen", do romance de Agostina Bessa-Luís que em 1981 foi adaptado para o cinema.

Porto, século XIX. Dois amigos se apaixonam pela mesma jovem. José Augusto, a rapta e os dois se casam. Mas Francisca não esquece o grande amor. Um ano depois, ela morre de tuberculose e o marido também se vai poucos meses depois.

"Ele gostava muito do ópio", explicou Licínio, completando que um médico disse que Francisca morreu virgem.

"O que será que aconteceu? Há muitas especulações", comentou. Ele tem a sua própria tese. "Foi um amor dramático até o final", resumiu.

Outra grande história é a da origem dos duques de Palmela, proprietários de um panteão de 200 túmulos. Para escutar o relato completo é melhor se sentar.

"É a história de como duas pessoas vão até as últimas consequências por amor", começou o guia.

Isabel Juliana Paim e Alexandre Holstein juraram amor eterno na adolescência, mas ela estava prometida para um dos filhos do marquês de Pombal, que era o homem mais poderoso do país. No altar, Isabel diz "não", mas de nada adianta.

"Sua babá ficou com tanta pena que fez para ela um saco com lençóis e durante à noite ela o vestia até o pescoço para não consumar a relação", continuou Licínio.

O casal se transformou no assunto mais comentado da alta sociedade de Lisboa. Tanto que Pombal pediu a anulação do casamento ao papa. Isabel então foi enviada a um convento controlado pela irmã do marquês.

Abandonada e negada pela família, esperou na clausura até que Pombal caísse em desgraça para então ter o seu final feliz: Alexandre a buscou e eles se casaram.

"É um romance shakesperiano", disse Licínio.

Foi um "até que a morte nos separe", mas não um amor eterno. Quando Isabel morreu, Alexandre se casou com uma sobrinha.

Menos sorte teve Maria Severa Onofriana, a bela de voz doce a quem se atribui a origem do fado. Seu caso foi um drama, já que se apaixonou pelo conde de Vimioso, um burguês boêmio que a abandonou depois que ela pegou tuberculose. Morreu jovem, pobre e sozinha.

"Não me levem flores. Não me respeitaram em vida, não quero que me respeitem na morte", seriam essas as suas últimas palavras, segundo Licínio.

Fernando Pessoa também não descansa ao lado de Ofelia Queiroz, o seu amor impossível. O corpo do escritor foi retirado do Cemitério dos Prazeres antes do enterro dela, em 1991.

"Separados na vida e na morte", lamentou Licínio.

Às vezes, como escreveu Pessoa, "o amor romântico é um caminho de desilusão". EFE