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Paul Klee e seu "Equilíbrio Instável" chegam ao Brasil em mostra inédita

11/02/2019 13h06

Nayara Batschke.

São Paulo, 11 fev (EFE).- Da dedicação familiar até os dias mais sombrios de sua carreira, o pintor Paul Klee ganha sua primeira grande exposição no Brasil, intitulada "Equilíbrio Instável", uma mostra inédita que revela as múltiplas facetas de um dos artistas mais icônicos do século XX.

Através de um compilado de mais de 120 obras de Klee (1879-1940), a exposição, que passará por três cidades brasileiras até novembro, oferece uma perspectiva intimista do homem por trás de um dos precursores da arte abstrata no mundo.

A mostra, que entra em cartaz nesta quarta-feira em São Paulo, apresenta o "mundo como palco" e permite ao espectador ver a estreita relação de Klee com outras expressões artísticas, como o teatro e a ópera.

Personagens como dançarinas, acrobatas, palhaços e equilibristas ocupam um papel central na sua obra, assim como as constantes associações entre a vida e o teatro, como explicou em entrevista com a Agência Efe a curadora da mostra, Fabienne Eggelhöfer.

Entre os primeiros estudos da natureza e os esboços do corpo humano, Klee não demorou para conseguir autonomia artística e rapidamente se transformou em um dos maiores vanguardistas do século XX.

"Não podemos definir seu trabalho em um estilo ou uma corrente. Justamente porque sua obra é tão interessante e ao mesmo tempo tão complexa. As pessoas gostam de rotular as coisas, e com Klee isso não é possível", afirma Fabienne.

O diálogo com as mais variadas expressões artísticas, como o surrealismo, o cubismo e o construtivismo, e seu experimentalismo no mundo das formas e as cores fizeram com que Klee se consolidasse como uma das figuras mais importantes da Escola de Bauhaus, cuja fundação completa cem anos em 2019.

Para a curadora, seus trabalhos provocativos com traços, linhas, formas geométricas e matizes "não se limitam ao passado" e "perduram até o presente".

Foi no contexto de uma Alemanha devastada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que Klee viveu um dos períodos mais sombrios de sua carreira, quando passou a retratar, assim como Pablo Picasso, Edvard Munch e Vasyl Kandinski, as angústias do homem moderno diante das novas configurações do mundo.

Enquanto o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães de Adolf Hitler ganhava terreno, entre 1932 e 1933, o abstrato cobrava um novo significado na obra de Klee: "Estou desenhando a revolução nazista", dizia.

No quadro "Suprimido da Lista" (1933), talvez o mais emblemático dos 250 desenhos que compõem esta série centrada na conturbada década de 1930 na Alemanha, o pintor sintetiza as ambiguidades do período, marcado pela perseguição política e que o levou ao seu exílio na Suíça.

Para a diretora do Centro Paul Klee de Berna, Nina Zimmer, os desenhos produzidos nesses anos podem ser lidos como "um alerta" para os "turbulentos" dias atuais.

"A arte de qualidade é fundamental para nos ajudar a compreender situações contemporâneas. Nós podemos usar a sensibilidade artística para entender o que está acontecendo ao nosso ao redor", afirma Nina.

Na mesma linha, Fabienne aponta que, assim como na época de Klee, "hoje em dia muitos artistas, em vários países, são perseguidos e não podem se expressar livremente".

"Klee se expressava de uma maneira muito atemporal. Se olharmos os seus desenhos hoje, é inevitável não fazer um paralelo com o que está acontecendo no mundo", diz curadora.

Fabienne ressalta que foi nos últimos anos de vida, entre 1935 e 1940, que o pintor atingiu a maturidade artística e conseguiu consolidar "o que estava procurando por décadas".

Na sessão "trabalhos tardios", a mostra revela precisamente o lado mais multifacetado de Klee, período no qual se consagra através do seu estilo reducionista e cheio de expressividade.

Sua última obra, uma tela sem título de 1940, é uma compilação desses elementos construídos e aperfeiçoados ao longo das décadas e reúne, através de pinceladas do expressionismo, do cubismo e do grafismo, uma "riqueza singular" que "atesta o seu estilo verdadeiramente único e peculiar".

"Todos sentimos muita curiosidade sobre o que Klee poderia ter feito se só tivesse vivido um pouquinho mais", lamenta a curadora. EFE