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Peripécia, a companhia teatral ibérica que representa em português e espanhol

17/01/2019 10h06

Carlos García.

Guarda (Portugal), 17 jan (EFE).- Interpretar na língua de Miguel Cervantes e na de Luís de Camões não está ao alcance de qualquer companhia de teatro e é a marca do grupo Peripécia, integrado por atores espanhóis e portugueses e baseada no norte de Portugal.

A ideia nasceu há duas décadas, quando o ator português Sérgio Agostinho conheceu os espanhóis Noelia Domínguez e Ángel Frágua na Escola Superior de Arte Dramática de Madri.

Após vários anos em diferentes companhias, em 2004 eles decidiram criar a Peripécia, que agora está reduzida a Agostinho e Domínguez e assentada na cidade de Vila Real.

A primeira criação bilíngue surgiu há 14 anos com textos próprios - outra das marcas da Peripécia - e foi "Ibéria, A Louca História de uma Península", sobre as relações entre ambos países, que ainda se mantém em cena e foi representada por toda a península.

Até o momento a companhia produziu 14 obras, todas com roteiro próprio, nas quais são capazes de "aportuguesar" ou "espanholizar" certas expressões para que não percam sentido, segundo Agostinho explicou aos risos em entrevista à Agência Efe.

"Sempre improvisamos em espanhol", contou Noelia Domínguez, lembrando que o que mais lhe custou quando chegou a Portugal foi assimilar que "neste país os textos são muito longos e tive que aprender rapidamente o português".

Agora, a Peripécia cria obras com textos rápidos, poéticos do ponto de vista da reflexão social, sempre com bom humor e com protagonismo da expressão corporal.

É o caso da obra que estão encenando há um ano, "La Tortilla de Mi Madre", escrita por Domínguez e centrada na solidão e nas relações com os pais que envelhecem e estão longe.

A companhia espera levá-la ao longo de 2019 a diferentes teatros espanhóis após suas apresentações em Portugal.

Entre os objetivos do grupo está aumentar sua presença na Espanha, segundo destacou Domínguez, após a boa recepção que tiveram em países como Argentina e Brasil, já que, segundo a atriz, "às vezes somos reconhecidos mais fora do que dentro".

No seu esforço em divulgar a cultura do teatro, o grupo patenteou a ideia "Lua Cheia, Arte na Aldeia", um projeto que os leva a representar nas noites de lua cheia uma peça na aldeia onde a companhia tem sua sede, Coêdo (distrito nortista de Vila Real).

"Não cobramos entrada, a única coisa que as pessoas têm que fazer é levar comida e bebida para compartilhá-la com os demais após a representação", explicou a atriz, já que "o objetivo é fomentar as relações coletivas".

Essa bem-sucedida experiência como companhia bilíngue já foi levada inclusive ao cinema, pelas mãos do diretor espanhol Ramón de los Santos, com o filme "Até Ao Canto do Galo".

A próxima criação da Peripécia, que deve ser lançada ainda este ano, será sua primeira peça de rua, protagonizada por uma velha caravana para refletir sobre as migrações causadas pela mudança climática. EFE