Natal tradicional da Grécia tenta resistir às tendências globais
Ana Mora Segura.
Atenas, 24 dez (EFE).- Repleto de tradições e pratos bastante específicos, o tradicional Natal da Grécia tenta resistir às tendências globais neste fim de ano, uma missão assumida por grande parte da população do país.
Uma das guloseimas mais irresistíveis nesta época do ano na Grécia são os doces, que começam a ser especialmente preparados por confeitarias e pelas famílias semanas antes do Natal.
Os kourabiedes, espécie de cookie à moda grega, e os melomakaronas, um biscoito a base de nozes e mel, são como embaixadores do Natal. Ambos só são encontrados nesta época do ano.
Os dois doces são oferecidos pelos anfitriões às pessoas que visitam suas casas no período festivo, inclusive para aquelas que aparecem sem avisar, cantando músicas tradicionais natalinas.
Uma das tradições que o país tenta manter ocorre no dia 24 de dezembro. Como no Halloween nos Estados Unidos, crianças passam de porta em porta das casas de suas vizinhanças cantando a "Kalanda", que teria sido criada na Grécia antiga. Em troca, recebem doces.
No Dia de Natal, as famílias se reúnem para uma ceia. Normalmente, o prato principal é o peru, como em grande parte do Ocidente. No entanto, outras pessoas preferem servir menus alternativos, mais em conta para o bolso.
As decorações, no entanto, estão perdendo a particular batalha contra a globalização da Árvore de Natal. Especialmente no litoral e nas ilhas gregas, a tradição manda que as pessoas usem maquetes de veleiros feitas de madeira, adornadas com luzes e cores.
Esses barquinhos, chamados de karavaki na língua local, são instalados nas praças das cidades e dentro das casas, perto das chaminés, com a proa apontando para o centro do imóvel.
Eles representam a profunda relação do país com o mar e a alegria das famílias quando os marinheiros voltam para casa para celebrar as festividades após passarem meses embarcados.
Com a esperança de que a família tenha um ano próspero, os gregos também colocam moedas ou objetos de ouro dentro do "karavaki".
A primeira Árvore de Natal chegou ao país em 1833, pelas mãos do Rei Oto I, que a trouxe da Baviera, hoje território da Alemanha.
Outra tradição importante ligada ao mar é a celebração da Epifania, no dia 6 de janeiro, quando os gregos lembram o batismo de Jesus Cristo e pedem bênçãos para que o ano seja proveitoso.
Nos portos de todo o país, um sacerdote abençoa uma cruz que é lançada na água. Atrás dela, os fiéis mais valentes tentam recuperá-la e devolvê-la à terra firme para terem boa sorte no novo ano.
De uma perspectiva mais pagã, também se acredita que espíritos brincalhões saem das entranhas da Terra para alterar o estado de paz das pessoas durante os 12 dias do Natal. Esses duendes são chamados de kallikantzaros, que fazem parte de várias lendas na Grécia, nos países dos Bálcãs e na Anatólia.
Durante o restante do ano, os kallikantzaros tentam realizar uma tarefa quase impossível debaixo da terra: serrar a Árvore do Mundo, que une o céu, o mundo terreno e a região onde os duendes vivem durante a maior parte do tempo, através de suas raízes.
Segundo a lenda, quando eles estão prestes a serrar a última parte da árvore e provocar o colapso da Terra, chega o solstício de inverno e o Natal. O Sol some por 12 dias, o que permite que os duendes fiquem na superfície terrestre, esquecendo a principal missão para se concentrar em outras travessuras inofensivas.
A lenda diz que, no dia 6 de janeiro, o Sol começa a se movimentar, e os duendes devem voltar para debaixo da Terra. Na ausência deles, a Árvore do Mundo se recuperou completamente, por isso eles devem começar a serrá-la desde o início do ano.
Em algumas regiões da Grécia, as pessoas se reúnem na véspera em torno de grandes fogueiras para beber, dançar e cantar com o objetivo de afugentar os kallikantzaros e fazer com que eles voltem para as profundezas do mundo no dia seguinte.
Outros misturam as tradições com outros rituais. Para evitar sofrer com as travessuras dos duendes no período, dormem com as lareiras acesas por 12 dias, marcam as portas de entrada das casas com uma cruz negra e acendem incensos. EFE
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