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Internet Archive, o sonho de criar uma Biblioteca de Alexandria digital

10/12/2018 10h04

Marc Arcas.

San Francisco, 10 dez (EFE).- A Biblioteca de Alexandria foi um projeto em massa que há mais de 2.200 anos se propôs a concentrar todo o conhecimento da antiguidade, algo que agora no século XXI tenta ser replicado digitalmente pela organização sem fins lucrativos Internet Archive, fundada por um dos "pioneiros" da rede.

Em entrevista à Agência Efe, o presidente e fundador do arquivo, Brewster Kahle, que já mergulhava no mundo virtual nos anos 80 e faz parte do Salão da Fama da Internet, explicou que o compromisso que ele adquiriu consigo mesmo nos primeiros anos desta tecnologia foi o de construir uma biblioteca.

"Em média, as páginas de internet desaparecem depois de 100 dias. Como se pode manter uma cultura onde os conteúdos desaparecem? Da mesma maneira que a Wikipédia é a enciclopédia de internet, nós nos vemos como a biblioteca", disse Kahle, que comanda 150 pessoas entre empregados e voluntários.

Na sua missão de ser um contêiner integral de conhecimento, o arquivo se estrutura em seis seções distintas: livros e textos digitais; gravações de áudio e música; vídeos; imagens; programas de software e páginas web.

Para esta última seção, a organização desenvolveu uma tecnologia batizada como Wayback Machine, que capta periodicamente os conteúdos (tanto aparência e interface como links) de páginas no mundo todo, os armazena, organiza e põe à disposição de todo aquele que os queira consultar.

Assim, se, por exemplo, um pesquisador, um jornalista ou simplesmente um usuário querem averiguar que aspecto tinha um domínio de internet em março do ano 2000, basta realizar a busca através da Wayback Machine para obter uma réplica exata.

Esta hemeroteca digital conta na atualidade com 330 bilhões de sites armazenados nas dezenas de gigantescos servidores que a organização dispõe em várias localizações da área da baía de San Francisco, na Califórnia.

No Internet Archive também se pode consultar ou inclusive pegar emprestado (como em uma biblioteca convencional, mas em formato digital) 20 milhões de livros e textos, muitos dos quais foram digitalizados pelos próprios trabalhadores da organização.

"Os direitos autorais fazem com que muitos dos livros escritos durante o século XX não estejam digitalizados nem disponíveis na internet. Os trabalhos anteriores, no entanto, por encontrar-se livres de direitos de propriedade intelectual, estão na rede, mas estamos perdendo uma bibliografia de grandíssimo valor para a humanidade", destacou Kahle.

Por funcionar como uma biblioteca usual, o Internet Archive soluciona este problema, já que qualquer pessoa em qualquer canto do mundo pode pegar emprestadas, de forma gratuita, cópias digitais destes livros aos quais deixará de ter acesso quando terminar o empréstimo.

"O Internet Archive é muito mais rápido e fácil de usar que as bibliotecas clássicas, mas o problema é que deixa de fora grandes partes do conhecimento e, hoje em dia, aquilo que não está 'online', não existe. Isso é o que a nossa organização tenta solucionar: tornar disponíveis os conteúdos que atualmente não estão", explicou.

Desde seu início em 1996 na área de San Francisco, o arquivo tem se expandido até dispor hoje em dia de 28 localizações em todo o planeta, das quais se digitaliza uma média de 1.000 livros a cada dia.

A organização também registra noticiários de televisão, que são classificados por meio de metadados de maneira que um usuário pode encontrar, após uma simples busca, todas as referências feitas na TV americana a personagens públicos como, por exemplo, Bill Gates ou Stephen King.

"Eu vejo a internet como um experimento radical de compartilhar. E funciona. Compartilhamos tudo: conhecimentos, experiências, etc. As pessoas adoram compartilhar desde que não sintam que estão se aproveitando delas. E esse é o problema atualmente: muita gente não se sente confortável na internet; sente que alguém está se aproveitando deles", ressaltou o "pioneiro" da internet.