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Pivô de escândalo no Nobel de Literatura enfrenta 2º julgamento por estupro

Jean-Claude Arnault, pivô do escândalo sexual que provocou o adiamento da entrega do Prêmio Nobel de Literatura - Jonathan NACKSTRAND / AFP
Jean-Claude Arnault, pivô do escândalo sexual que provocou o adiamento da entrega do Prêmio Nobel de Literatura Imagem: Jonathan NACKSTRAND / AFP

Em Copenhague (Dinamarca)

12/11/2018 09h32

Um Tribunal de Apelação de Estocolmo deu início nesta segunda-feira o julgamento por estupro contra o artista francês Jean-Claude Arnault, protagonista de um escândalo sexual e de vazamentos de informações, e detonante da crise da Academia Sueca e do Nobel de Literatura.

Arnault foi condenado em outubro a dois anos de prisão e a pagar uma indenização de 115 mil coroas suecas (algo mais de 11 mil euros) ao ser considerado culpado em um dos dois casos de estupro contra a mesma mulher, ambos cometidos em 2011.

O tribunal deu credibilidade aos testemunhos da denunciante e de sete testemunhas, incluído um psiquiatra que a atendeu, a quem nos dias dos acontecimentos relatou o episódio, em um caso sem provas físicas.

A sentença estabeleceu a pena mínima à qual Arnault podia ser condenado, frente aos três anos que o promotor pedia e os seis fixados como máximo para este tipo de crimes.

No novo julgamento, que deve terminar na quarta-feira, a defesa de Arnault apresentará novas provas e chamará a prestar depoimento duas novas testemunhas, incluída a esposa do acusado, a poetisa sueca Katarina Frostenson, membro da Academia Sueca, a instituição que outorga a cada ano o Nobel de Literatura.

A origem do caso foram as denúncias por abuso sexual feitas há um ano no principal jornal sueco por 18 mulheres contra uma "personalidade cultural" muito próxima à Academia, depois identificada como Jean-Claude Arnault.

A reportagem apontava que Arnault tinha cometido abusos no seu clube literário e em propriedades da Academia.

Ao explodir o escândalo, a instituição cortou relações com o artista e encarregou uma auditoria, que concluiu que Arnault não tinha influenciado em decisões sobre prêmios e ajudas, embora o apoio econômico recebido da academia pelo seu clube literário descumprisse as regras de imparcialidade já que sua esposa era coproprietária.

O "caso Arnault" suscitou um conflito interno que nos últimos meses provocou a renúncia de cinco acadêmicos e a saída temporária de quatro, do total de 18 que formam a instituição.

A Academia Sueca impulsionou várias reformas e o Nobel de Literatura deste ano, pela primeira vez em sete décadas, não foi entrega, o que representa que em 2019 serão outorgados dois prêmios, medida justificada pela falta de confiança e o enfraquecimento da instituição.

Arnault, de 72 anos, cumpre prisão preventiva desde o final de setembro por ordem dos tribunais.