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Primeiros encontros entre Oriente e Ocidente lembrados no deserto de China

07/10/2018 10h15

Jèssica Martorell.

Dunhuang (China), 7 out (EFE).- A cidade de Dunhuang, na China, na entrada do deserto de Gobi, foi refúgio para os viajantes que faziam comércio entre Oriente e Ocidente há milhares de anos e promoveram um troca cultural única que deixou sua maior marca nas cavernas de Mogao, uma cápsula do tempo das Rotas da Seda.

Aos pés de dunas gigantescas, o lago da Lua Crescente foi um oásis fértil que transformou Dunhuang, no oeste, em um dos principais pontos de passagem das Rotas da Seda e parada obrigatória para os comerciantes após longas travessias com seus camelos por terrenos hostis.

As caravanas não só levavam produtos exóticos de Oriente e Ocidente, mas também transmitiram ideias artísticas, culturais e religiosas, que atualmente continuam presentes nas cavernas de Mogao - também conhecidas como as dos Mil Budas -, declaradas pela Unesco Patrimônio da Humanidade em 1987.

Depois que o monge Yue Zun teve uma visão mística no local, foram escavadas entre os séculos IV e XIV cerca de 800 cavernas e santuários na montanha, dos quais 492 estão decorados com pinturas.

Ao entrar nas cavernas de Mogao, o visitante viaja através do tempo: milhares de budas coloridos decoram as paredes das grutas, junto com várias apsaras, ninfas aquáticas da mitologia hindu, que voam pelos tetos.

Também se destacam as imponentes esculturas, entre elas um buda reclinado de 15 metros da Dinastia Tang e o buda mais alto de Mogao, de 35 metros.

Junto com as representações religiosas, também é possível ver o rastro das Rotas da Seda com pinturas de comerciantes e camponeses, e a combinação de elementos chineses e ocidentais que refletem a confluência de diferentes civilizações neste enclave.

No entanto, a passagem do tempo deixou marcas nas grutas e sua conservação é um dos grandes desafios atuais, devido ao crescente número de turistas - em 2017 esses locais foram visitados por 9,1 milhões de pessoas - e a própria natureza das cavernas.

O vice-diretor da Academia de Estudos de Dunhuang, Zhao Shengliang, explicou que muitas pinturas já começaram a ser digitalizadas para que sua beleza possa ser preservada para futuras gerações, mesmo que virtualmente.

"A aplicação da tecnologia é essencial para a conservação das cavernas", explicou Zhao durante a terceira exposição internacional das Rotas da Seda, realizada em Dunhuang, para divulgar o estudo e a promoção de sua cultura no mundo todo.

Para diminuir o impacto do turismo nas cavernas, cada ano só são abertas ao público 20 delas, e as que estão fechadas são mostradas aos visitantes através de um filme 4D antes do início da visita.

"Não podemos lutar contra a Natureza", comentou um dos guias das grutas, assegurando que até mesmop a poeira que cobre as esculturas não pode ser removida para não prejudicar seu pigmento.

Outro dos tesouros de Mogao é uma biblioteca secreta com dezenas de milhares de manuscritos sobre a história da China, da Ásia Central e do budismo datada de entre o século V e o começo do VI.

Os tesouros foram descobertos no começo do século XX pelo monge Wang Yuanlu que, após pressões de arqueólogos estrangeiros como Aurel Stein e Paul Pelliot, vendeu sua descoberta de valor incalculável por um preço irrisório.

Por isso, séculos depois, os especialistas chineses continuam denunciando o espólio dos tesouros chineses. "Milhares dessas obras estão agora em museus de EUA e Europa", criticou Zhao.

"Eles não têm direito de manter essas relíquias em outros países", disse o vice-diretor da Academia de Estudos de Dunhuang, garantindo que ele mesmo pediu a diplomatas americanos a devolução das relíquias para a China.