Topo

Estudo confirma origem pré-hispânica do mezcal

03/09/2018 21h30

Cidade do México, 3 set (EFE).- Uma série de fornos descobertos na zona arqueológica Xochitécatl-Cacaxtla, no estado mexicano de Tlaxcala, eram usados na produção de mezcal entre os anos 600 e 400 a.C., muitos séculos antes do que se pensava, segundo confirmou nesta segunda-feira um estudo da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

Até pouco tempo atrás se considerava que o processo de destilação foi trazido no século XVI ao novo mundo pelos espanhóis, que por sua vez o aprenderam com os árabes, e que a principal bebida alcoólica nas sociedades mesoamericanas era o pulque, um tipo de fermento do agave.

No entanto, pesquisadores da UNAM fizeram uma análise na qual confirmaram que tais fornos foram usados para processar o agave e produzir mezcal. Seus resultados foram publicados na revista "Journal of Archaeological Science Reports".

Os pesquisadores Avto Goguitchaichvili e Juan Morales, do Serviço Arqueomagnético Nacional da UNAM, em Morélia, além de Mari Carmen Serra Puche e Carlos Lazcano Arce, do Instituto de Pesquisas Antropológicas da Universidade, participaram do estudo.

"Isto nos mostra que há 25 séculos essas sociedades não eram nômades nem caçadoras-coletoras, mas altamente sofisticadas, com conhecimentos juntamente com os árabes e os europeus", explicou Goguitchaichvili, também pesquisador do Instituto de Geofísica da UNAM, em Morélia.

Serra Puche e Lazcano Arce estudavam há algum tempo a área de Xochitécatl-Cacaxtla, onde investigam as atividades produtivas dos grupos assentados ali.

Além de evidências do trabalho com pedra verde (jadeíta), produção de artefatos com ossos de animal e atividades agrícolas, também foram achadas cavidades que, segundo pensaram, serviam para cozer cerâmica, mas, após analisar suas caraterísticas, souberam que eram para cozer "cabeças" de agave.

"É um assunto que gerou polêmica", reconheceu Lazcano Arce, uma vez que era "atrevido" dizer que havia mezcal no período formativo de Tlaxcala.

A equipe de Goguitchaichvilia realizou estudos sobre 35 objetos achados na área (rochas, amostras de chão e fragmentos de duas vasilhas), submetidos a diferentes experimentos de temperatura e magnetismo.

Os resultados revelaram dois possíveis intervalos de uso dos fornos: entre os anos 878-693 a.C. e entre 557-487 a.C.

Ao comparar os dados com os registros arqueológicos, constaram que coincidem com a primeira ocupação da região; portanto, dão maior certeza à hipótese de que foram usados entre os anos 600 e 400 antes de Cristo.

Este período se caracterizou não só por contar com os fornos de cozimento, mas também pela intensa produção de cerâmica (tanto cerimonial como utilitária) e pelas oficinas líticas.