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"Benzinho": o ninho vazio que Karine Teles enche de amor

01/08/2018 14h29

Alicia G.Arribas.

Madri, 1 ago (EFE).- A síndrome do ninho vazio e como lidar com a situação já foi contada no cinema de diversas formas, e muitas vezes a partir da comédia, mas "Benzinho", de Gustavo Pizzi, aposta em uma visão mais delicada e feminista: a de uma mãe imensa interpretada por Karine Teles.

É o olhar dela - atriz, escritora e roteirista do filme junto com Pizzi -, que transforma o longa, que estreia este mês, em um poço de amor sem fundo: aos filhos, ao parceiro, à irmã e, o melhor, para ela mesma.

"Eu sou mãe, mulher e feminista. Era importante eu trabalhar a Irene do ponto no qual ela entende as suas capacidades, seu potencial; fazer com que se pergunte pelo seu lugar no mundo e se posicione", explicou a atriz, em entrevista à Agência Efe.

A história, que teve estreia mundial no Festival de Sundance e levou o prêmio de melhor filme pelo júri e pela crítica no Festival de Málaga, acompanha Irene, que se divide entre estudar e cuidar dos quatro filhos, enquanto trabalha como vendedora.

A família fica totalmente abalada quando Klaus, o marido (Ottavio Müller), não consegue desenvolver suas ideias de negócio e o filho mais velho (Konstantinos Sarris) é chamado para jogar handebol na Alemanha. A história ganha ainda mais um ingrediente quando Sonia (Adriana Esteves) chega à casa da irmã com o filho.

"Irene não fala com palavras, não se expressa com um raciocínio elaborado, mas não se deixa levar pelo papel clássico da mulher ou das obrigações que uma mãe pode ter, por exemplo. Ela desenvolve sua faceta de mulher nesse busca pela melhoria", esclareceu ela, revelando compartilhar "toda essa força" de Irene.

"Isso é muito meu e também de outras mulheres", acrescentou, admitindo ser um desejo pessoal "mostrar o feminismo" de um ponto de vista mais afetuoso.

O roteiro foi feito há mais de cinco anos, quando Gustavo e ela eram casados. Segundo Karine, eles costumavam escrever separadamente e depois olhavam o texto juntos e reescreviam.

Sem ser autobiográfica, como era o filme anterior dos dois - "Riscado" (2010) -, "Benzinho" tem muitos aspectos dele, dela, e de ambos, como os filhos gêmeos, de cinco anos. E, como um personagem extra, a casa: um chalé velho, cheio de problemas, onde o básico não funciona, como uma metáfora do "que já não faz mais parte na vida desta mulher".

"Irene precisa construir a casa nova e se nega a deixar o filho fora. A casa é o lugar onde ele permanecerá. Ela continuará sendo mãe, amando o filho e tendo um espaço para ele. A casa nova tem mais espaço, mais possibilidades e está mais perto do que ela deseja. É a própria transformação de Irene", resumiu.

Para Karine, a filosofia do filme cabe na frase "sempre em frente".

"Escutei isso da minha mãe e digo para mim mesma todos os dias. Acho que qualquer avanço, embora seja só um passo, é transformador e potente. É preciso se obrigar a caminhar e ir adiante. E juntos", refletiu.