"O Bebê de Rosemary" completa 50 anos de satanismo com o selo Polanski
Carmen Rodríguez.
Madri, 12 jun (EFE).- A história do cinema tem uma longa lista de filmes sobre "o coisa ruim", mas foi "O Bebê de Rosemary", que Roman Polanski lançou há exatos 50 anos, a produção capaz de arrepiar até o mais destemido telespectador.
Fielmente baseado no livro de Ira Levin de mesmo nome, o longa chegou às telonas em 12 de junho de 1968 e foi o primeiro totalmente americano do diretor polonês, que deu uma lição de como criar um clima de medo e insegurança a partir de elementos cotidianos.
Nada tão cotidiano quanto um casal jovem que se muda para um apartamento em Nova York e decide ter um filho, com atípicos vizinhos solícitos demais e um marido capaz de tudo para triunfar como ator. A história começa quando Rosemary - a primeira protagonista de Mia Farrow -, depois de um pesadelo, fica grávida e passa a suspeitar de que uma terrível ameaça paira sobre ela e o bebê que espera.
Polanski conduz com mestria a carta da ambiguidade neste filme.
"Não quero que o espectador pense 'isto' ou 'aquilo', quero simplesmente que tenha certeza de nada. Isto é o mais interessante: a incerteza", disse à época.
E a imaginação é a melhor máquina de criar terror se os indícios são suficientemente sugestivos e neste caso são, envolvidos em uma falsa normalidade e com uma obsessão pelo detalhe com assinatura de Polanski.
"Não existe nada de sobrenatural, salvo o pesadelo. A ideia do diabo poderia ser considerada como paranoia de Rosemary durante a gravidez ou por uma depressão pós-parto", disse Polanski ao canal "Conversations Inside The Criterion Collection".
No entanto, o espectador simpatiza imediatamente com a frágil e angelical Rosemary, que se afunda cada vez mais em um ambiente no qual o marido, seu médico e os intrometidos vizinhos lhe arrebatam o controle de si mesma como pessoa e como mulher. Uma fragilidade e um desespero que contrastam com a então principiante Mia Farrow, que se candidatou ao papel mesmo com a oposição do marido Frank Sinatra - que enviou o pedido divórcio para o set de filmagem - e que foi capaz de comer fígado cru mesmo sendo vegetariana.
"Para ser sincero, não estava empolgado com ela até começarmos a gravar. Foi aí, para a minha surpresa, que descobri que é uma atriz brilhante. Este é um dos papéis femininos mais difícil que posso imaginar", reconheceu Polanski.
O Oscar daquele ano, no entanto, foi para Ruth Gordon, que constrói com mestria o papel da peculiar vizinha Minnie Castevet.
A relação do diretor não foi no entanto tão positiva com John Cassavetes, que interpreta o marido de Rosemary. Para Polanski, o ator tinha métodos muito afastados da sua obsessão pelo planejamento e infinita repetição das tomadas.
Como quase qualquer filme de terror, "O Bebê de Rosemary" não passou impune da mancha negra, começando pelo lugar onde foi filmado. Foi na portaria do edifício Dakota, em Nova York, que John Lennon foi assassinado e onde no início do século XX viveu o mestre do ocultista Aleister Crowley, que, segundo a lenda, praticou lá alguns dos seus rituais.
Em uma época em que as seitas ocultistas proliferavam nos Estados Unidos, membros de algumas delas se reuniram na porta do prédio ao saber da temática do filme e ameaçaram Polanski para não continuar com as filmagens. Houve inclusive quem enxergasse vínculos entre o assassinato da esposa de Polanski, Sharon Tate, grávida de oito meses, e morta pela seita de Charles Manson, um ano depois.
De toda forma, "O Bebê de Rosemary" não perdeu virtudes e deixou nos olhos de muitos cinéfilos a imagem de espantado de Rosemary ao ver pela primeira vez o rosto do filho. Uma imagem negada ao espectador porque, como defendeu Polanski, "mostrar a criança teria sido um grande erro".
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