Após petição online, Twitter passa a ter versão em suaíli
Irene Escudero.
Nairóbi, 11 mai (EFE).- "Twitter, reconheça o suaíli", exigiram centenas de usuários da rede social, que até poucos dias identificava esta língua falada por cerca de 100 milhões de pessoas em alguns países da África como indonésio.
O movimento foi o suficiente para que o Twitter acabasse cedendo. Agora, os usuários falantes desse idioma são recebidos com um "Karibu" ("Bem-vindos", em suaíli) na página inicial.
"Twitter reconhece o suaíli como língua", anunciou esta semana o Ministério de Esportes e Patrimônio do Quênia na sua conta na rede social.
O suaíli - ou kiswahili - é uma das línguas com mais falantes no continente africano, oficial na Tanzânia, no Quênia, em Ruanda, na República Democrática do Congo e falada em outros seis países. Agora, é também o primeiro idioma africano a ser reconhecida pelo Twitter, ou seja, a rede social detecta as palavras em suaíli e permite a opção de traduzi-las.
"Fizemos barulho, muito barulho com #SwahiliIsNotIndonesian (Suaíli não é indonésio) e #TwitterRecognizeSwahili (Twitter, reconheça o suaíli). Aproveitamos esta ocasião para agradecer o Twitter por nos escutar. Obrigado por reconhecer o suaíli", escreveu no último dia 3 a Brand Kenya Board, a agência governamental queniana encarregada de promover o turismo e os negócios no país.
A organização foi uma das precursoras da campanha no Twitter e conseguiu a adesão de muitos usuários, que têm agradecido à plataforma com a hashtag #AsanteSanaTwitter ("Muito obrigado, Twitter", em suaíli).
Tudo começou no Dia das Línguas Africanas, em fevereiro, quando se comemora a riqueza linguística do continente e o uso dos milhares de idiomas falados para que não caiam no esquecimento. Na ocasião, os usuários quenianos notaram que quando tuitavam em suaíli, abaixo da publicação aparecia a opção: "traduzir do indonésio".
Foi então que a agência federal de turismo do Quênia - onde quase 17 milhões de pessoas falam esse idioma - começou a incentivar os tweets e pedir para que os cidadãos interpelassem os responsáveis da rede social.
"O suaíli é mais do que uma língua. É a nossa língua nacional. Respeite o suaíli. Respeite o Quênia"; "Uma língua nos dá a sensação de pertencimento"; "O suaíli já foi suficientemente suprimido. Twitter, reconheça o suaíli", são algumas das publicação feitas no mês passado.
A Brand Kenya Board aproveitou a oportunidade e disponibilizou dados que davam visibilidade a importância da campanha no país: 7% dos africanos usam as redes sociais frente a 23% no mundo, mas no Quênia o percentual é de 19%.
O país também têm médias melhores do que as mundiais em outros quesitos. No Quênia, 58% das pessoas têm acesso à rede e 83% têm celulares. No mundo, as taxas são de 42% e 51%, respectivamente.
O suaíli se tornou internacional graças, em grande parte, ao clássico filme "O Rei Leão". Assim que se chega ao Quênia ou à Tanzânia, por exemplo, é comum ouvir "Hakuna matata" ("Sem problema"), ou ir fazer um "safari" ("viagem", em suaíli) e ver um "simba" ("leão") ou ser cumprimentado por alguém na rua com um alegre "rafiki" ("amigo").
Esta reafirmação da identidade linguística nas redes sociais rompe com a crença de que os idiomas africanos são falados apenas pelos mais humildes, já que, o uso dos idiomas do colonizador (inglês, francês, português ou espanhol) nas repartições públicas está levando muitas línguas locais à extinção.
O suaíli é uma mistura, em latim, de vocabulário árabe com gramática bantu, línguas que inicialmente formavam um dialeto. Surgiu quando comerciantes árabes e persas chegavam ao litoral da África e conversavam com os locais, que falavam o que à época era conhecido como kingozi.
A mescla com o árabe, e mais tarde a disseminação do alfabeto latino pelos missionários cristãos, inaugurou uma língua, o suaíli, que atualmente é falado por, aproximadamente, 100 milhões de pessoas, conforme a base de dados linguísticos Ethnologue.
O suaíli é uma das línguas mais faladas do continente depois das coloniais (e a 50ª no mundo) e a única da África adotada como oficial pela União Africana (UA).
"Se você fala com um homem numa língua que ele compreende, o recado entra na cabeça. Se você fala com um homem em sua língua, o recado vai para o seu coração", disse, certa vez, o ex-presidente sul-africano e vencedor do Nobel da Paz, Nelson Mandela.
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