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Bicentenário de Marx, entre reflexão histórica e protestos na Alemanha

05/05/2018 14h54

Gemma Casadevall.

Berlim, 5 mai (EFE).- A Alemanha lembrou neste sábado o bicentenário de nascimento de Karl Marx com a cúpula da social-democracia reunida na cidade do filósofo, Tréveris, empenhada em oferecer reflexões críticas sobre o autor de "O capital".

"Nós, os alemães, não podemos esquecer os crimes do totalitarismo comunista", apontou Kurt Beck, presidente da Fundação Friedrich Ebert, vinculada ao Partido Social-democrata (SPD), além de ex-líder desta formação e ex-primeiro-ministro do estado da Renânia-Palatinado, onde Tréveris está.

"O aniversário deve servir para a reflexão histórica e a recuperação das essências do seu pensamento", acrescentou Beck, na abertura das homenagens ao filósofo, incluindo a inauguração da estátua de Marx, um presente da China.

Com pensamento parecido, a atual chefe do governo do estado, Malu Dreyer defendeu que "não se pode responsabilizar Marx pelos crimes cometidos em seu nome", em alusão às ditaduras comunistas passadas e presentes.

A também a líder do SPD, Andrea Nahles, a primeira mulher à frente dessa formação de mais de 150 anos, disse que Marx marcou à social-democracia como nenhum outro pensador e que suas palavras continuam atuais em um mundo que carece de ordem solidária.

"O lugar ideal para esta tarefa é Tréveris", disse Andrea, onde o pensador nasceu em 5 de maio de 1818, e em cuja figura e obra se centram três exposições simultâneas e um extenso programa de atos e debates.

Às aproximações históricas se acrescenta a inauguração da estátua de cinco metros de altura e quase duas toneladas e meia no centro urbano de Tréveris, apesar de nem todos os cidadãos compartilharem o entusiasmo pelo seu filho mais ilustre.

Contra essa homenagem, a delegação local do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) convocou uma manifestação no centro histórico. As críticas não pararam por aí. O fato de ser a China a responsável pela estátua - e de uma delegação do país participar do ato - não gerou simpatia.

Com ou sem polêmica, Tréveris se transformou em cidade-museu e atração turística em torno do filósofo, cuja imagem se multiplicou em mil versões, seja em mini estátuas, cinzeiros, pósters, camisetas ou sinalizações de trânsito.

Foi na sua cidade, perto da fronteira com Luxemburgo, que ele passou a infância e a adolescência, antes de ir para outras partes da Alemanha e depois para Paris, Bruxelas e ao exílio em Londres, onde morreu em 1883.

Outro lugar que faz homenagens para o pensador é Chemnitz, uma cidade do antigo território germânico-oriental, que não esteve ligada ao filósofo em momento algum, mas que durante 37 anos, entre 1953 e 1990, se chamou Karl-Marx-Stadt. Lá segue de pé o busto de 7,10 metros de altura, obra de um escultor soviético e inaugurada em 1971, como presente aos trabalhadores.

Muitos moradores de Chemnitz cresceram na Alemanha já reunificada, mas o monumento deu lugar a sucessivas "performances" artísticas, como o que aconteceu dez anos atrás, nos 190 anos, quando se "encheu" Marx em um cubo. A experiência artística pensada para este bicentenário consistia em transformar a estátua em um "elemento falante", com o filósofo conversando com líderes atuais, como Vladimir Putin, Donald Trump e Angela Merkel.