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São Paulo Fashion Week tenta se reinventar em meio à crise do setor

26/04/2018 19h52

Nayara Batschke.

São Paulo, 26 abr (EFE).- Após 29 desfiles em seis dias, a 45ª edição da São Paulo Fashion Week terminou nesta quinta-feira com a sensação de "dever cumprido" na sua missão de reinventar-se em meio a uma "crise generalizada" na indústria têxtil, que neste ano foi visível em uma das passarelas mais importantes da América Latina.

"O mundo hoje se parece muito ao de 30 anos atrás. Passamos por um momento de mudanças políticas, culturais, sociais; um momento de crise nos processos da moda", disse à Agência Efe Paulo Borges, fundador e diretor artístico da Semana da Moda de São Paulo.

Borges destacou que, se por um lado a crise de três décadas atrás se centrava na globalização, a de agora se trata muito mais da "superficialidade" e do efeito "pouco durável" das coisas em um mundo conectado 24 horas na internet.

Perante um cenário ainda incerto, a indústria da moda precisa se recriar e buscar novas maneiras de continuar respondendo às novas demandas, explicou Borges.

Nesse sentido, para o fundador da SPFW a criatividade exerce um papel fundamental na busca pelo "novo" durante um momento de transição no qual já "não existem tendências ou coleções definidas por temporadas específicas".

Com um orçamento bastante reduzido, que passou de US$ 3,8 milhões em anos anteriores a US$ 2,3 milhões em 2018, Borges se disse "satisfeito" com o resultado desta edição, pois considera que a São Paulo Fashion Week cumpriu de maneira positiva seu "papel de inovar, transformar e provocar novos olhares".

"Viemos estudando faz um tempo o papel da Fashion Week, a sua história e o seu legado nos seus 22 anos. Estamos em um novo momento, um novo mundo e uma nova economia. Não posso carregar esses 22 anos como um peso", declarou.

Isso porque, se a Semana da Moda de São Paulo tem uma marca registrada, esta é a da inovação e da adaptabilidade.

A passarela paulista ficou famosa globalmente por ser pioneira em várias ações, como a transmissão de desfiles ao vivo ou em acolher uma modelo transexual, medidas copiadas em outras semanas de moda, como as de Milão, Paris e Nova York.

Embora a crise e os problemas tenham sido percebidos e comentados pelos convidados - a elite do setor da moda brasileira -, a atmosfera durante os seis dias de evento era de otimismo e confiança em que dias melhores virão.

"A Semana da Moda é um retrato do momento político e econômico de um país e a indústria têxtil está se reinserindo no Brasil contemporâneo", afirmou a consultora Costanza Pascolato, um dos nomes mais influentes da moda brasileira.

Se por um lado a São Paulo Fashion Week manteve a tradição de entregar desfiles que são verdadeiros espetáculos audiovisuais, como os de aclamados nomes do calibre de Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho ou Lino Vellaventura, por outro se rendeu à tendência de escutar as demandas da sociedade e abraçou a diversidade nas suas passarelas.

O grande destaque desta edição foram os mamilos expostos, a ousada tendência que começou em Nova York, se consolidou em Londres para, finalmente, aterrar nas passarelas paulistas, depois de passar por Paris e Milão.

A tendência dos seios de fora esteve presente em quase todos os desfiles em São Paulo, seja entre os estilos mais casuais, como o surf e a moda praia, ou nos desenhos mais elegantes e sofisticados.

O público percebeu desde o primeiro dia, quando o Projeto Ponto Firme, do estilista Gustavo Silvestre e cujas peças foram confeccionadas por 19 presidiários, exibiu a tendência em várias peças de croché, bem como fez Liana Thomaz, estilista responsável pela assinatura dos trajes de banho da Água de Coco.

Ao longo da semana, nomes da alta costura, como Samuel Cisnarck, Lilly Sarti, Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho e Lino Villaventura também incluíram os seios expostos nos seus sofisticados conjuntos.

Seja pela criatividade ou a adaptação, a Semana da Moda de São Paulo conseguiu fazer frente à dura recessão que o país sofreu em 2015 e 2016 e da qual somente começou a recuperar-se, embora ligeiramente, em 2017.

"O grande mérito da Semana de São Paulo é estar à disposição do coletivo, do novo, da inovação, da criação, da ideia, da cultura e da qualidade. Nós resistimos sobre esses aspetos e resistimos a todo tipo de pressão", finalizou seu fundador.