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Adriana Barraza receberá Prêmio Platino de Honra "transbordando de alegria"

25/04/2018 18h21

Irene Valiente.

Buenos Aires, 24 abr (EFE).- A atriz mexicana Adriana Barraza afirma que sempre foi "bastante caudilha", mas propaga afeto e naturalidade. Sem perder suas características, e com o coração "transbordando de alegria", receberá nesta semana no México o Prêmio Platino de Honra 2018 do Cinema Ibero-Americano.

Em entrevista com a Agência Efe em Buenos Aires, Adriana, de 62 anos, afirma estar "muito orgulhosa" e "honrada" porque, depois de ter participado de várias cerimonias de gala, se sente "parte" dos Platino.

Além disso, a atriz afirma que existem poucos prêmios que englobam europeus e americanos, por isso os Platino são "uma delícia" e uma "bênção" para um grande número de criadores com histórias para contar.

"A Ibero-América é muito grande, muito extensa, muito rica e a união de todos nós fará uma indústria muito forte".

Na sua quinta edição, que será realizada no próximo domingo em Xcaret (Riviera Maya, México), os Platino reconhecerão Adriana por sua "impressionante e multifacetada trajetória profissional" como atriz, diretora, produtora e professora, e seu compromisso com a indústria cinematográfica ibero-americana.

Ela diz que não sente preferência por nenhuma de suas facetas, mas está "cômoda trabalhando" em tudo o que for relacionado com o espaço cênico. Além disso, acredita que a mudança ajuda a "encontrar, experimentar e investigar" para "não envelhecer" no palco.

Considerada a "grande dama do cinema ibero-americano", Adriana está há quatro décadas no mundo da interpretação e já fez 50 filmes na carreira. Entre eles, os dois mais aplaudidos são os de seu compatriota Alejandro González Iñárritu, "Amores Brutos" (2000) e "Babel" (2006).

O primeiro lhe permitiu perceber que podia atuar de outra maneira: "Alejandro, com sua metodologia diferente, faz com que o ator desdramatize e aprofunde". Desta forma, elimina todo o supérfluo, deixando uma atuação "da vida real", na qual há "mais pessoas do que personagens", conta a atriz.

Com "Babel", Adriana ganhou reconhecimento global, graças aos prêmios e indicações que recebeu, entre elas ao Globo de Ouro e ao Oscar. "Me deu a grande maravilha de fazer uma carreira como atriz outra vez, porque até então trabalhava mais por trás das câmeras", acrescenta.

Apesar da sua longa carreira, à qual não deixa de acrescentar novos desafios, Adriana nunca sonhou em se dedicar à atuação.

"Foi uma casualidade: eu queria ser dançarina. Aos meus 16 anos, tive que escolher entre basquete, teatro ou balé, mas a fila do balé estava cheia, portanto disse: 'bom, teatro então'", conta.

Foi assim que chegou à sua primeira aula, da qual lembra perfeitamente de cada detalhe. "Encontrei no palco meus colegas, seres humanos, neste caso adolescentes, muito carentes e estávamos buscando um espaço onde não importasse como éramos, onde fôssemos aceitos", lembra, visivelmente emocionada.

No início da carreira, enfrentou algumas dificuldades pelo fato de ser mulher, "pequenina e jovenzinha", afirma, por isso teve que aprender a desenvolver certas ferramentas e a ser "mais inteligente" para ganhar o respeito dos seus chefes e companheiros.

Sofreu, sobretudo, quando trabalhou por trás das câmeras, onde passou por situações discriminatórias "o tempo todo".

"Havia atores muito famosos que te maltratavam mais por ser mulher, te faziam pedidos... Não somente homens, também as mulheres", conta Adriana, antes de apontar que nunca viveu casos de violência, como aconteceu com algumas de suas colegas.

A atriz considera que o crescimento do movimento #MeToo aconteceu porque "cosmicamente, surgem os momentos das revelações, nos quais já não pode haver coisas ocultas".

Pois denúncias de abusos sexuais no mundo do cinema "sempre houve ", aponta Adriana ao lembrar o caso da filha de Woody Allen, que "ninguém prestou atenção", ou o do produtor Harvey Weinstein, que já tinha sido acusado por mulheres que "não eram famosas" e que, portanto, não foram ouvidas.

Por isso, se diz "muito alegre" por ver rostos mais conhecidos contarem nos últimos meses o que passaram para que as que sofreram anos atrás "se vissem respaldadas e não passassem por mentirosas".

Adriana nasceu em Toluca, tem casa em Buenos Aires - cidade na qual vivem sua filha e seu neto -, e mora em Miami, onde leciona na escola de atuação que fundou com seu empresário e marido, o também ator Arnaldo Pipke, em 2011.

Definitivamente, a atriz não entende de fronteiras, como as que fizeram sofrer seu personagem Amelia em "Babel", e que agora, com a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, passaram a ter destaque.

"É tão escandaloso no que faz, tão desproporcional às vezes", tem gestos "muito banais, que superficializam as coisas", critica Adriana, que acredita que, após a vitória de Trump, a discriminação e os maus-tratos que já existiam nos governos anteriores se agravaram.

Mas, infelizmente, Trump abriu mais uma porta "perigosa": a da "intolerância do branco supremacista", apontou.