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Em meio a escândalo, Academia Sueca estuda não conceder Nobel de Literatura

Sara Danius, ex-secretária permanente da academia do Nobel - Jonas Ekstromer/Via Reuters
Sara Danius, ex-secretária permanente da academia do Nobel Imagem: Jonas Ekstromer/Via Reuters

De Copenhague (Suécia)

25/04/2018 15h33

A Academia Sueca pode não conceder o Nobel de Literatura neste ano devido ao escândalo de vazamentos e supostos abusos sexuais que criou uma crise na instituição com a saída de cinco membros, segundo confirmou o presidente da Fundação Nobel, Carl-Henrik Heldin, à emissora de televisão pública "SVT".

Várias pessoas do Comitê do Nobel de Literatura e a Academia Sueca consideram que o prêmio não deveria ser concedido neste ano e que isso serviria para recuperar a confiança e reparar as feridas, informou a emissora pública "SR", que citou fontes não identificadas dessa instituição.

Deste modo seriam outorgados dois prêmios de Literatura em 2019, um correspondente ao ano anterior, segundo uma ideia apoiada por Peter Englund, um dos membros que deixou a academia.

"Estamos em meio a uma discussão, não vou dizer nada, mas daqui a pouco se esclarecerá o que acontece com esse ponto (a escolha do ganhador deste ano)", declarou à emissora o secretário da Academia Sueca, Anders Olsson.

Já um dos membros da academia, Per Wästberg, disse à "SVT" que antes de duas semanas não se poderá dar uma resposta definitiva sobre o assunto.

Por outro lado, o diretor da instituição, Göran Malmqvist, desmentiu o site do jornal "Dagens Nyheter" que o prêmio não será concedido, embora tenha admitido que houve uma proposta, mas a deu por descartada e considerou que seria "horrível" se acontecesse.

No entanto, a decisão sobre o prêmio deverá ser tomada por todos os membros da academia, na qual o cargo principal é desempenhado pelo secretário permanente.

O Nobel de Literatura já deixou de ser concedido em várias ocasiões, da mesma forma que os outros, durante as guerras mundiais do século passado, mas nunca por outros motivos.

O escândalo explodiu em novembro, quando Dagens Nyheter publicou a denúncia anônima de 18 mulheres por abusos e humilhações sexuais contra o dramaturgo Jean-Claude Arnault, muito vinculado à Academia através do seu clube literário e marido de uma de seus membros, Katarina Frostenson.

A Academia cortou relações com Arnault e determinou uma auditoria sobre suas relações com a instituição, mas desacordos internos nas medidas a tomar provocaram renúncias, acusações e demissões, entre outros, da secretária, Sara Danius, e de Frostenson.

A Academia Sueca decidiu na quinta-feira passada publicá-la e entregá-la às autoridades, além de anunciar reformas.

O relatório descarta que Arnault tenha influenciado em decisões sobre prêmios e ajudas, embora o apoio econômico recebido descumpra as regras de imparcialidade por sua esposa ser coproprietária da sociedade que controla o clube; e confirma que a confidencialidade sobre o ganhador do Nobel foi violada em várias ocasiões.

Entre as mudanças no funcionamento da instituição está a reforma dos estatutos proposta pelo rei Carlos 16 Gustavo, protetor da academia, para permitir a renúncia real dos seus membros, por desejo próprio ou após dois anos sem participar ativamente, e a possibilidade de que sejam substituídos.

As renúncias são simbólicas e só se traduzem em não participar de votações e atividades, já que a filiação à instituição é vitalícia e só se elegem novos membros quando morre algum deles.

As últimas saídas deixaram a academia com apenas 11 dos 18 assentos ocupados, um a menos que os necessários para escolher novos membros e tomar decisões, como as relativas ao Nobel.