Cinema volta à Arábia Saudita após 35 anos, com "Pantera Negra"
A Arábia Saudita abriu nesta quarta-feira uma sala de cinema pela primeira vez nos últimos 35 anos, como parte das reformas promovidas pelo reino ultraconservador, embora o público ainda tenha que esperar para assistir a um filme na telona.
A cerimônia de inauguração da luxuosa sala, que fica no centro financeiro Rei Abdullah, em Riad, a capital do país, contou com a presença de representantes do governo, do mundo do cinema árabe e internacional e diplomatas, além de Adam Aron, diretor-executivo da empresa AMC Entertainment, operadora de todos os cinemas que serão abertos no país, segundo um contrato firmado em 2017.
Os convidados, que chegavam ao som de uma banda de jazz, eram de ambos os sexos, apesar da separação que existe nos espaços públicos na Arábia Saudita, algo que surpreendeu Lamiah al Ahmad, funcionária de uma produtora de cinema.
"Vi muitos filmes em Beirute e Manama. Este acontecimento me gera uma sensação diferente", afirmou.
Após a inauguração oficial, foi exibido, só para os convidados, o filme "Pantera Negra", um sucesso mundial que o público saudita poderá ver a partir da próxima semana, segundo o Ministério de Cultura e Informação.
No país árabe, o filme é liberado para maiores de 15 anos, e acredita-se que algumas de suas cenas foram eliminadas.
O produtor saudita Abdulaziz al Zamil disse à Agencia Efe que é compreensível a aplicação da censura, porque "cada país tem seu ponto de vista com relação à classificação" do conteúdo das filmes.
"A cultura dos povos muda e amadurece com o passar do tempo, e as leis também mudam, embora o façam lentamente", acrescentou.
Zamil comemorou o fato de que não terá que viajar a outro país para assistir a um filme "que esperava com vontade" ou vê-lo em outra plataforma que não fosse as telonas.
De acordo com ele, os sauditas acompanham as produções cinematográficas lendo as críticas dosa filmes e sabendo sobre os mesmos sem poder assistí-los. Porém, a partir de agora, poderão fazê-lo por 50 riais sauditas (R$ 43) nas três salas que funcionarão no centro financeiro Rei Abdullah no terceiro trimestre de 2018.
A Autoridade de Meios Audiovisuais, responsável por dar as licenças aos novos cinemas, disse que hoje "começa uma indústria diferente com o lançamento do cinema saudita", e que pelo menos 40 salas devem estar prontas nos próximos cinco anos no país.
O diretor saudita Abdallah al Eyaf afirmou que a abertura da primeira delas "é um marco histórico que levará o cinema saudita para um futuro impressionante".
Em "Cinema 500 km", filme de 2006 no qual assinou o roteiro e foi diretor e produtor, Eyaf contou a história da viagem de um jovem de Riad ao Bahrein para ir ao cinema pela primeira vez.
"Sempre sonhei que essa distância fosse de 500 metros, e isso está acontecendo hoje", declarou.
Muitos sauditas, que nasceram e cresceram em um país sem salas de cinema, se viam obrigados a viajar à capital bareinita, Manama, para ver filmes nas telonas.
As salas de cinema foram fechadas na Arábia Saudita no início da década de 80 após o endurecimento das normas sociais e a restrição das liberdades individuais e do lazer e todas as manifestações artísticas em público.
A reabertura faz parte das medidas promovidas pelo príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, desde que foi designado, em junho de 2017, que incluem o acesso das mulheres a estádios de futebol e a realização de shows musicais.
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