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Êxodo provocado por crise econômica também afeta teatro na Venezuela

Bárbara Agelvis

De Caracas (Venezuela)

07/04/2018 10h12

O teatro da Venezuela se transformou em outro espaço prejudicado pelo êxodo dos cidadãos do país, que no meio da grave crise econômica, política e social registrou a saída de milhares de venezuelanos, incluindo seus atores, que buscam uma melhor qualidade de vida.

Atores de reconhecida trajetória teatral na Venezuela, que exerceram diferentes cargos dentro deste mundo que eles mesmos definem como um espaço que convida à reflexão, expressaram à Agência Efe preocupação com o êxodo de artistas e outros profissionais do setor.

A atriz, diretora e produtora Diana Volpe, com mais de 40 anos de experiência na área, indicou que o mais difícil em fazer teatro atualmente na Venezuela "é enfrentar não somente os custos diários, mas o êxodo diário".

"Nós preparámos dezenas e dezenas de jovens em todos os aspectos da vida do teatro e atualmente vemos que, quando nos sentamos para preparar um elenco, um bom número desses jovens já não está aqui e sabemos de outros tantos que querem sair. Ou seja, é um êxodo bem grande que não pode ser subestimado", considerou.

"E esta situação obriga uma companhia como a nossa a pensar que, de agora em diante, se quero produzir algo terei que começar a treinar os atores", acrescentou Volpe, uma das diretoras do grupo teatral Caja de Fósforos.

A também atriz e produtora comentou que o teatro na Venezuela atualmente se encontra "lutando para sobreviver", embora tenha destacado que são muitos os jovens interessados em preparar-se nesta área segundo pôde observar através das diferentes oficinas que oferece.

"A insegurança, a escassez, a dificuldade de custear os preços, o êxodo, a necessidade de sair para buscar uma forma de viver, o que vivemos diariamente. O que significa viver na Venezuela", detalhou Volpe sobre os temas abordados nas oficinas.

Por sua parte, Héctor Manrique, diretor e ator de teatro e televisão de longa trajetória, disse à Efe que o teatro na Venezuela "está resistindo" perante a crise que também afetou este setor, "porque, por um lado, uma grande quantidade de pessoas dedicadas a este ofício está deixando o país".

"Mas, por outro lado, há uma grande quantidade de espaços de representação teatral que foram fechando e outros que não fecharam os foram utilizando como uma espécie de alicate político onde só se apresentam as pessoas que, de uma ou outra forma, apoiam este governo", completou.

No entanto, segundo Manrique, ainda há coisas que o "estimulam", porque ainda há "grupos e instituições que seguem trabalhando" como os grupos Caja de Fósforos e Esquena.

"Acredito que, apesar de toda essa situação complexa e difícil que estamos vivendo, o nosso espaço de reflexão continua sobre o palco", acrescentou.

O ator considera que "hoje, mais do que nunca, o teatro na Venezuela é necessário, porque seu papel, a sua função do ponto de vista artístico é tentar lançar um pouquinho de luz sobre a realidade".

Em meio a uma grave crise econômica, vários dos reconhecidos atores venezuelanos têm se radicado em outros países onde ainda podem exercer seu ofício, sobretudo diante da baixa produção de novelas na Venezuela, que antes era uma grande indústria, mas hoje quase não existe se comparada com a situação de 20 anos atrás.