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Mulher recebe carta de irmã gêmea sobrevivente do Holocausto 74 anos depois

Fanny Gewürz recebeu uma carta da irmã após 74 anos - Reprodução/Twitter
Fanny Gewürz recebeu uma carta da irmã após 74 anos Imagem: Reprodução/Twitter

Joan Mas Autonell.

Rishon LeZion (Israel)

07/03/2018 17h04

Uma carta extraviada com destino a Tel  Aviv que a sobrevivente do Holocausto Fanny Gewürz enviou em 1944 na Espanha com destino à sua irmã gêmea, Rachel, chegou finalmente nesta quarta-feira (07), 74 anos depois, à destinatária.

O presidente da câmara de deputados da província de Lérida, Joan  Reñé, como parte de um projeto local que recupera a memória da passagem pela parte catalã dos Pireneus de milhares de judeus que fugiam dos nazistas, entregou a carta a Rachel Furstenberg, de 93 anos, em um ato na Câmara municipal de Rishon  LeZion, cidade israelense onde a irmã de Fanny vive com a família.

O documento foi encontrado no ano passado pelo historiador da Universidade de Lérida Josep  Calvet entre os arquivos da família Casas, que administrava uma hospedaria na cidade montanhosa de Sort, onde Fanny ficou hospedada em 1944.

Lá, ela encontrou refúgio depois de cruzar os Pireneus em uma dura travessia para escapar das garras dos nazistas.

"Quando os alemães chegaram à França, minha mãe se refugiou no sul do país, onde viveu vários anos com uma identidade falsa", contou à Agência Efe Benjamin Neeman, filho da sobrevivente do Holocausto, que hoje acompanhou a tia no evento em que recuperou a carta que deveria ter sido entregue há 74 anos.

Durante a década de 1930, a família Gewürz, de origem judaico-polonesa, vivia na cidade de Karlsruhe, na Alemanha, de onde as gêmeas Fanny e Rachel fugiram por decisão de seus pais, que pressagiavam a perseguição do regime nazista contra a população judaica.

Após se estabelecer na casa de familiares na cidade de Estrasburgo, na França, o caminho das então meninas se separou em 1939: Rachel emigrou para o Protetorado Britânico da Palestina, mas Fanny ficou na França.

No entanto, no verão de 1940, com a ocupação nazista sobre o território francês, Fanny teve que voltar a fugir para se refugiar no sul do país. Quatro anos mais tarde, quando as perseguições na França no final da II Guerra Mundial se aguçavam, "Fanny decidiu ir para a Espanha com um grupo de jovens judeus fazendo um trajeto muito complicado", disse Neeman.

"A viagem foi muito dura, no meio da neve, tinha que durar três dias e durou dez, mas por fim conseguiram completar", acrescentou, emocionado pela lembrança de mãe, que morreu em 2008.

"Quando chegou à Espanha, a primeira coisa que fez foi escrever uma carta para sua irmã para lhe dizer que estava viva e que logo estariam juntas, mas ela nunca chegou às mãos da minha tia", afirmou.

A carta de Fanny, onde também contava a Rachel que seus pais tinham sido mortos por nazistas, percorreu Espanha, Portugal e Egito, mas nunca chegou à destinatária e foi devolvida a Sort, onde a família Cases a guardou com a esperança de que um dia ela mesma viesse buscá-la.

"O documento ficou em um dossiê que havia na minha casa, após o falecimento dos meus pais, que nunca quiseram se desfazer dela", contou Montserrat Cases, filha do dono do hospedaria onde Fanny se hospedou há 74 anos.

Após a estadia em Sort, Fanny esperou três meses em Barcelona até pegar um barco de Cádiz rumo a Tel Aviv, onde se reencontrou com a irmã Rachel e viveu o resto de sua vida.

"O recebimento da carta representa o fechamento de um ciclo. O fato de que agora possamos dá-la à minha tia, após tantos anos, é muito comovente", concluiu Neeman.