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Exposição com 80 obras de Basquiat chega ao CCBB de São Paulo

24/01/2018 06h01

Alba Santandreu.

São Paulo, 24 jan (EFE).- O artista americano Jean-Michel Basquiat tinha um plano na vida e o executou. Transformou sua rebeldia em arte e, antes de morrer por overdose, aos 27 anos, deixou sua marca impressa em mais 2 mil peças, sendo que 80 delas estarão expostas no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo em forma de retrospectiva a partir desta quinta-feira.

"Sei desenhar, mas luto contra isso", costumava dizer Basquiat (1960-1988) quando perguntado sobre seus traços simples e figuras básicas e infantis.

Em um contexto de crise - Nova York dos anos 80 -, o jovem artista e sua geração ajudaram a "repensar o mundo", com doses gigantes de energia, de novas cores e emoções que naquela época representaram um alívio para o mundo da arte, segundo o curador da mostra, Pieter Tjabbes.

A retrospectiva, que será inaugurada na quinta-feira em São Paulo, traz 80 obras do artista, que são marcadas pelo uso de materiais e formas simples, como o papel, as colagens, as cópias de reprografia e a combinação de palavras e imagens humanas, a maioria inspirada em um livro de anatomia do século XIX que sua mãe lhe deu de presente após sofrer um acidente.

Esta fusão aparece refletida em "Hand Anatomy", uma obra realizada em 1982, um dos períodos mais produtivos de uma breve carreira marcada pela experimentação na arte, no sexo e nas drogas.

"Hand Anatomy", pintada sobre madeira, recolhe algumas das características de sua obra: o grafite, a linearidade, os elementos de anatomia e as frases em inglês e espanhol, às quais não é preciso buscar uma explicação.

Basquiat conviveu com livros, especialmente com os da geração "beat", como o escritor Jack Kerouac, e extraía deles algumas frases aleatórias que incluía em suas peças.

Trinta anos após sua morte, as obras de Basquiat são o capricho de colecionadores no mundo todo, mas o "menino selvagem" iniciou seu trabalho longe das galerias.

Basquiat começou vendendo cartões postais e escrevendo enigmáticas mensagens na zona sul de Manhattan, os quais assinava junto com o amigo Al Díaz como SAMO (de "same old shit", a mesma velha merda, em tradução livre).

Anos mais tarde, Al Díaz e Basquiat declararam a morte de SAMO ("Samo is dead", escreveram), e o artista nova-iorquino iniciou então uma meteórica carreira solo que o levou até as portas de Andy Warhol, que se tornou seu amigo e "sócio".

Ambos produziram uma série de obras conjuntas, entre elas, "Heard Atack" (1984), uma das obras da exposição que será aberta ao público na próxima quinta-feira no CCBB de São Paulo e que faz parte da coleção pessoal do israelense Jose Mugrabi.

Mas o trabalho entre ambos não teve a aceitação esperada e um crítico de arte chegou a afirmar que "Basquiat era o mascote de Warhol", um comentário que detonou a relação artística entre ambos.

"Warhol era o único de quem Basquiat aceitava conselhos", conta Tjabbes.

Sem Warhol, Basquiat seguiu usando todos os tipos de elementos para compor sua obra, entre eles a sua própria casa, como mostra uma porta cinza de seu antigo apartamento com a qual presta homenagem aos negros.

Filho de pai haitiano e mãe porto-riquenha, Basquiat é um "retrato fiel" da Nova York da década de 80, e sua obra chega a São Paulo "em um momento importante para o Brasil", disse Tjabbes.

A produção do artista, segundo o curador, personifica o caráter da Nova York da época, "quando a mistura de entusiasmo e decadência da cidade criou um paraíso de criatividade".

"Os Estados Unidos atravessavam uma crise forte, com muita insegurança, com racismo. Isso também é vivido aqui no Brasil", declarou.