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Filmes sobre jornalismo se transformam em sucesso quase certo no cinema

23/01/2018 06h01

Luis Sanz.

Redação Central, 23 jan (EFE).- Com a estreia de "The Post: A Guerra Secreta" este mês, o novo filme de Steven Spielberg se une à lista de produções sobre o jornalismo que, quase sempre com contornos épicos, constituem um subgênero que rendeu grandes sucessos à indústria do cinema.

Nesta ocasião, Meryl Streep e Tom Hanks, vivem editora e diretor do "Washington Post", que em 1971 decidiu publicar documentos secretos do Pentágono sobre a atuação americana na Guerra do Vietnã.

A direção de Spielberg e as estrelas de Hollywood respondem pelo sucesso da produção, aliado à temática jornalística que quase sempre funciona bem no cinema, tanto em recriações de histórias reais quanto de ficção.

A tensão entre o direito à informação e a tentação dos poderosos de guardar os seus segredos rendeu grandes histórias ao cinema, algumas tão importantes quanto "Todos os Homens do Presidente" (1976), dirigido por Alan J. Pakula e interpretado por Robert Redford e Dustin Hoffman.

A história que recriou a investigação do Caso Watergate, o maior escândalo de corrupção política dos Estados Unidos e que acabou com a presidência de Richard Nixon pelo trabalho de dois redatores do "Washington Post", lendas entre os profissionais do jornalismo, Bob Woodward (Redford) e Carl Bernstein (Hoffman), ganhou quatro prêmios no Oscar.

Outra homenagem ao jornalismo investigativo é "O Informante" (1999), dirigido por Michael Mann, no qual Al Pacino, com a ajuda de Russell Crowe, colocou na mira empresas fabricantes de cigarro e a sua prática de acrescentar substâncias viciantes aos produtos.

Mais recentemente, "Spotlight: Segredos Revelados" (2015) de Thomas McCarthy, vencedor do Oscar de melhor filme, narrou o trabalho da equipe de investigação do "Boston Globe", que recebeu o Prêmio Pulitzer por revelar casos de pedofilia na Igreja Católica.

Na maioria das vezes o jornalista no filme é um herói desafiando o poder e que trabalha sempre no limite da censura política ou moral, e ainda com o risco de perder o seu emprego ou até algo mais.

Esse embate foi muito bem retratado em "Boa Noite e Boa Sorte" (2005), de George Clooney, filme protagonizado por David Strathairn e pelo próprio Clooney que relata o confronto entre o famoso apresentador da "CBS" Edward R. Murrow e o senador Joseph McCarthy.

Apesar de o jornalismo político e o investigativo estarem nas telonas desde o mítico "Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles, o cinema também refletiu outros gêneros da imprensa.

Um exemplo é o filme sobre a entrevista que o jornalista britânico David Frost (Michael Sheen) fez com o ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon (Frank Langella), em 1977, e que Ron Howard filmou em 2008, "Frost/Nixon".

O Novo Jornalismo, mistura de literatura e jornalismo que fez sucesso nos anos 70, também teve sua vez com "Capote" (2005), de Bennett Miller.

A história mostrava o trabalho investigativo de Truman Capote sobre o assassinato de uma agricultora do Kansas e que foi contado no livro "A Sangue Frio", que para muitos representou a origem do Novo Jornalismo. A interpretação do falecido Philip Seymour Hoffman valeu um Oscar e um prêmio BAFTA.

Os repórteres de guerra também têm os seus filmes icônicos, como o australiano "O Ano Que Vivemos em Perigo" (1982), de Peter Weir, com Mel Gibson e Sigourney Weaver; e o britânico "Os Gritos do Silêncio" (1984), de Roland Joffé, ambos ambientados no Sudeste Asiático.

Mas nem todos foram odes à liberdade de expressão e épicas história de repórteres. O cinema também mostrou o lado obscuro dos meios de comunicação e talvez o primeiro que tenha feito isso (com permissão de Welles) tenha sido Sidney Lumet ao advertir sobre o excessivo poder da televisão em "Network - Rede de Intrigas" (1976), que mostra quando um veterano apresentador (Peter Finch) anuncia que está disposto a se matar na frente das câmaras para evitar a demissão e acaba disparando a audiência. O filme foi vencedor em quatro categorias no Oscar.

O mesmo fenômeno, a ética vilipendiada para conseguir audiência, é o tema central de "O Abutre" (2014). Jake Gyllenhaal encarna um sujeito que descobre o quão lucrativo pode ser o mercado de venda de imagens de tragédias para a imprensa.

Ainda muitas pessoas lembram de "A Primeira Página" (1974) quando o assunto é jornalismo e cinema, no qual Billy Wilder dirigiu Jack Lemmon no papel de um jornalista disposto a abandonar a profissão para se casar e Walter Matthau, como o diretor, se mostra disposto a qualquer coisa para mantê-lo na equipe.

Em pelo menos três ocasiões peças de teatro foram para no cinema: "Última Hora" (1931), "Jejum de Amor" (1940) e "Troca de Maridos" (1988), com histórias que se passam em um jornal e em uma emissora de TV.