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Exploradores descobrem a maior caverna inundada do mundo no Caribe mexicano

21/01/2018 09h56

Christyan Estrada.

Cidade do México, 21 jan (EFE).- Quatorze anos de exploração foram necessários para que a humanidade pudesse conhecer a maior caverna inundada do mundo, de 347 quilômetros de comprimento, graças aos mergulhadores do projeto Grande Aquífero Maya (GAM), que, além disso, confirmaram a descoberta do sítio arqueológico submerso mais importante do planeta.

A histórica descoberta foi registrada ao ser encontrada a conexão dos dois sistemas de cavernas inundadas conhecidas como Sac Actun (263 quilômetros de comprimento) e Dos Ojos (84 quilômetros) em Tulum, no estado mexicano de Quintana Roo, no sudeste do país.

Robert Schmittner, responsável por exploração subaquática do GAM, é o mergulhador espeleólogo alemão que esteve procurando por 14 anos tal conexão.

Foi na manhã de terça-feira, dia 9 de janeiro, que o explorador mergulhou na caverna Sac Actun, de 120 metros de profundidade, sem saber que encontrava-se a poucos metros de encontrar a conexão, que também revelou a existência do maior rio subterrâneo da Terra até agora explorado.

O mergulhador encontrou naquele túnel um "buraco" por onde corria um grande fluxo de água, a somente 15 metros abaixo da superfície.

"Quando vi esse buraco, tirei uma linha de um carretel que trazia comigo", lembra o explorador, que deixou que o fluxo de água arrastasse a linha ao longo de dois metros.

No dia seguinte, o mergulhador entrou na caverna Dos Ojos e, após uma hora de exploração, encontrou uma fenda onde o extremo da "linha solta que tinha deixado do outro lado estava balançando". Isto indicou ao explorador que sua busca de 14 anos tinha terminado.

"Foi incrível, foi uma sensação que não posso explicar; não podia acreditar, foi um momento de muita euforia", comentou Schmittner à Agência Efe.

De acordo com as normas da espeleologia, após a conexão descoberta por Schmittner, a caverna maior absorve a menor. Por isso, o nome desta última desaparece e o Sistema San Actun passa a ser agora oficialmente a maior caverna inundada do mundo.

"Permite-nos entender o contexto geológico da Península (de Yucatan)", disse à Efe Guillermo de Anda, diretor do GAM.

Guillermo acrescentou que a descoberta permitirá aos cientistas conhecer as direções dos fluxos de água subterrânea que passam pelos mangues e desembocam nos sistemas de coral do Mar do Caribe do México.

Para Schmittner, ter encontrado tal conexão "é uma conquista brilhante" para a espeleologia; no entanto, este não é o fim da exploração já que ao redor de Sac Actun existem outros sistemas de cavernas que poderiam se conectar e estender até 1.000 quilômetros.

"E estamos iniciando com os estudos hidrogeológicos", explicou Guilermo em relação aos trabalhos científicos, que contribuirão para gerar informação sobre a mudança climática.

A exploração dos sistemas de cavernas inundadas em Quintana Roo permitiu encontrar "restos de fauna endêmica e ossadas de pessoas que viveram antes da Idade do Gelo e dos primeiros habitantes da América", pelo que é considerada uma das zonas arqueológicas mais importantes do país.

O diretor do GAM disse que buscarão "fazer propostas de políticas públicas" para que o Governo municipal de Tulum e o estatal possam ter uma participação mais direta na conservação da região.

"Acredito que deve ser controlado do desenvolvimento urbano, sobretudo a construção de hotéis que possa propiciar a destruição de selva, e que exista maior controle de resíduos sólidos humanos", explicou o diretor.

A seguinte fase do projeto compreende a análise da qualidade da água do Sistema Sac Actun, bem como o estudo da biodiversidade que depende diretamente do aquífero.

Os cientistas e exploradores do GAM esperam que os cidadãos e as autoridades geram uma maior consciência para o manejo das águas pretas e o lixo da região.

É que antes de realizar sua grande descoberta, Schmittner contraiu uma infecção na garganta por resíduos fecais ao explorar um dos poços de Tulum, que são uma janela para o passado dos sacrifícios humanos que lá realizavam os antigos maias.

Schmittner e os seus companheiros do GAM dedicaram a conexão subaquática ao explorador Bil Phillips, ex-cartógrafo subaquático do projeto falecido dois meses antes de os seus amigos confirmarem a existência do maior sistema de cavernas inundadas do mundo.

Atualmente Sac Actun não é protegido e nele se desenvolvem atividades de turismo ecológico, especialmente de mergulho em cerca de 200 poços, o que torna ainda maior o desafio de conservação para os exploradores e cientistas do projeto.