Museu da Empatia em SP desafia visitante a calçar o sapato alheio
No Museu da Empatia, em São Paulo, não há quadros e nem obras de arte, só calçados usados e 25 histórias de pessoas desconhecidas que levam o "espectador" a calçar, literalmente, os sapatos do outro.
Entre dezenas de caixas de papelão, uma preta repassa a vida de Alex —nome fictício—, um jovem negro que, após perder seus parentes próximos, se envolve no mundo da criminalidade e das drogas.
Após passar mais de uma década atrás das grades, Alex luta contra suas inquietações e consegue ganhar a batalha graças ao boxe, um refúgio que hoje ensina aos jovens mais necessitados para fugir dos riscos da rua.
O próprio Alex é o narrador de sua história e para conhecê-la, o espectador precisa colocar capacetes, calçar seus tênis e começar a caminhar pelo Parque do Ibirapuera, em São Paulo, onde uma caixa quadrada guarda 28 pares de sapatos junto a 25 histórias.
O objetivo por trás deste atípico museu é desenvolver a empatia dos espectadores, uma ideia que surgiu em Londres e que agora chegou ao Brasil depois de percorrer várias cidades do mundo.
A exposição, intitulada "Caminhando em seus sapatos", é a adaptação de um provérbio indígena americano "A mile in a shoes", o que faz referência à importância de se colocar na pele do próximo antes de julgar.
"O provérbio diz que somente se pode julgar e conhecer uma pessoa depois de ter calçado seus sapatos e isso é o que esta exposição faz de forma literal", explicou à Agência Efe Andrea Buoro, diretora-executiva da Intermuseus, uma ONG que trabalha a favor do desenvolvimento social.
No museu —uma espécie de sapataria—sobressaem plataformas vermelhas com mais de dez centímetros de adornadas com pérolas coloridas. Sobre elas andou durante anos uma famosa dragqueen dedicada a distribuir sorrisos pelos palcos do Brasil.
Por trás de sapatilhas de balé, está a história de um Billy Elliot brasileiro, enquanto sapatos desgastados aparecem refletindo o profundo sofrimento de uma mulher humilde que há décadas procura um irmão desaparecido e que perdeu seu marido e seu filho em ações policiais.
"Morri no momento em que mataram meu filho. O tiro no coração dele alcançou o meu também", relata a mulher.
Em meio à dor, luta pelo respeito às vítimas e denuncia a instauração da "pena morte" na periferia do Brasil, onde estão as principais vítimas de violência do país sul-americano.
Com os sapatos calçados, os "espectadores" deste atípico museu escutam em silêncio as histórias, que contém relatos de perdas, superação, luto, amor, preconceitos, exclusão, esperança e inspiração.
"Quando a pessoa usa os sapatos e coloca o capacete, entra no universo dessas outras pessoas, o contato com a história é mais forte", conta à Efe um jovem de 21 anos.
Em seus sapatos estava a história de uma mulher com sobrepeso que conseguiu superar o preconceito diário e transformar sua experiência em ajuda para outras pessoas.
"É uma situação difícil, são regras que a sociedade impõe. Dizem que todo o mundo precisa ser magro, que ser gordo significa que não há saúde. Ela conseguiu superar isso graças às redes sociais e agora está ajudando muita gente", contou a espectadora.
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