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Necrópole do Kremlin é alvo de peregrinação no centenário da revolução russa

11/12/2017 06h46

Ignacio Ortega.

Moscou, 11 dez (EFE).- Atrás do mausoléu de Lenin fica a necrópole do Kremlin, um lugar que se transformou em alvo de peregrinação no ano do centenário da Revolução Russa e onde jaz o corpo embalsamado de Stalin e fica a urna com os restos mortais de Yuri Gagarin.

"Estive aqui quando criança, mas quase não me lembro de nada. Voltei para ver se Lenin mudou muito", disse à Agência Efe Vitali, um estudante oriundo da Sibéria que percorreu mais de 6 mil quilômetros para visitar o mausoléu.

A visita ao edifício de mármore situado na Praça Vermelha não dura nem 30 segundos, já que os guardas não querem aglomerações em torno da múmia do fundador da URSS e também proíbem que se tire fotos.

"Silêncio!", gritou o guarda situado na entrada da câmara mortuária em que está Lenin, que jaz inerte como se tivesse acabado de morrer, com sua careca e barba inconfundíveis intactas.

Um peruano, no entanto, ignorou a ordem do guarda e entoou emocionado a Internacional Socialista, mas seu atrevimento resultou apenas em uma pequena reprimenda e em sorrisos dos outros visitantes.

Alguns não conseguem evitar sinais corporais de desaprovação diante da exibição de um corpo embalsamado, embora bem vestido, para o desfrute de milhões de turistas.

"Nem que estivéssemos no Egito. Estamos cercados de múmias", acrescentou Vitali.

E Lenin não é a única múmia da necrópole. Entre 1953 e 1961, o fundador da URSS teve um companheiro de mausoléu, Josef Stalin, que foi retirado somente depois que Nikita Khrushchev condenou o culto à personalidade no famoso 20º Congresso do Partido Comunista.

Agora, o corpo de Stalin se encontra debaixo da terra, atrás do mausoléu, e protegido por uma fileira de abetos, que o impedem de ser visto do pavimento de paralelepípedos da Praça Vermelha.

É fácil encontrar seu túmulo, já que, além da presença de seu inconfundível busto, é o que mais tem flores vermelhas a seus pés.

Chama a atenção o seu nariz, que já foi quebrado durante a febre antissoviética da 'perestroika' (reestruturação) e foi recolocado, um procedimento estético que, pelo visto, não foi muito bem-sucedido.

Os turistas, entre eles muitos latino-americanos, se aglomeram em torno da estátua para tirar fotos com seus smartphones, mas o fazem com uma mistura de veneração e incredulidade.

Não muito longe do homem que dirigiu a URSS com punho de ferro durante mais de um quarto de século, se encontram outros três dirigentes soviéticos: Brezhnev, Andropov e Chernenko.

Chernenko foi o último a ser enterrado nesse local em 1985, já que o lendário Andrei Gromiko deixou bem claro em seu manifesto que queria ser sepultado em um cemitério.

"É algo anacrônico, mas muito interessante. Eu tinha muita curiosidade. Agora entendo porque (Vladimir) Putin não quer retirar a múmia", disse Richard, um turista britânico, sobre os pedidos para que Lenin seja enterrado.

Entre os líderes soviéticos, falta Khrushchev, o terceiro na história da URSS, mas este foi deposto do cargo e morreu como um cidadão comum, por isso foi enterrado no cemitério de personagens ilustres de Novodevichy.

Não longe de Stalin se encontram outros históricos líderes revolucionários e integrantes do alto escalão do Estado soviético como Kalinin, Kirov e Sverdlov, que deram nome a regiões como o território de Kaliningrado e a região Sverdlovsk, capital dos Urais.

Também figura o vilipendiado Felix Dzerzhinsky, o fundador da temível Cheka, precursora da KGB, que surpreendentemente também tem ramos aos pés de seu busto, que é facilmente reconhecível por sua barbicha.

Nas muralhas do Kremlin ficam as urnas com as cinzas de personagens históricos, como Yuri Gagarin, o primeiro cosmonauta da história; Máximo Gorki, o escritor do regime, e o lendário general Georgy Zhukov, herói da Segunda Guerra Mundial.

Também estão presentes placas com os nomes da amante de Lenin, Inessa Armand, e John Reed, o americano que foi testemunha em primeira mão da Revolução Bolchevique e que, após escrever "Dez Dias que Abalaram o Mundo", morreu em Moscou em 1920.

A necrópole inclui urnas com as cinzas de famosos pilotos, cosmonautas, cientistas e dirigentes comunistas estrangeiros, além de valas comuns com revolucionários.

Ninguém espera que o último dirigente da URSS, Mikhail Gorbachev, seja enterrado atrás do mausoléu, ainda mais porque sua esposa, Raíssa, está sepultada em Novodevichy, mas quem sabe o que vai acontecer quando chegar a vez do atual presidente, Vladimir Putin? EFE

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