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Bairro de oleiros da época romana emerge em Beirute

05/12/2017 10h01

Kathy Seleme.

Beirute, 5 dez (EFE).- Um bairro de oleiros da época do império romano emergiu em escavações no centro de Beirute, capital do Líbano, uma cidade que tem no seu solo rastros da passagem de 17 civilizações, que são reveladas a cada vez que se abre uma fundação.

A descoberta do bairro de oleiros, que data do século I d.C., aconteceu por acaso, nas obras da sede da Sociedade Geral Líbano-Europeia de Bancos, no bairro Saifi, que ficaram paralisadas para permitir os trabalhos de arqueólogos da Universidade Libanesa (UL).

Os arqueólogos, que devem prosseguir os seus trabalhos até 2018, já extraíram mais de 900 peças de diferentes períodos, disse à Agência Efe a diretora do grupo de pesquisadores, Muntaha Saghiyeh.

Entre outras estruturas, foi encontrado um tanque com aberturas destinadas a receber e evacuar água, que se acredita que poderia ser de um lavadouro público, o que, se for confirmado, representaria uma grande descoberta.

"Se for confirmada esta hipótese seria o terceiro (lavadouro) achado até agora no mundo depois do de Pompeia e o de Ostra Antiqual", explicou Saghiyeh.

O sítio arqueológico, primordialmente de uso industrial, possui vários utensílios e maquinarias usadas pelos oleiros na época.

Entre outros, há recipientes para preparar argila, seis fornos de diferentes tamanhos e formas muito bem conservadas, instalações com uma cúpula onde coziam grandes peças como telhas e ânforas, que serviam para transportar óleo, vinho e cereais.

"Além disso, foi encontrada uma estrutura de vinificação e se pode ver uma espécie de nicho onde provavelmente estava uma estátua de Minerva, a deusa dos artesãos", disse Saghiyeh, que não descarta a possibilidade de se encontrar a estátua entre os escombros.

Durante uma visita ao lugar, o arqueólogo Michel Jury explicou à Efe que as escavações acontecem em diferentes níveis e têm passado por camadas da época otomana, bizantina, romana e se tenta chegar à helenística, um nível onde "pode haver templos desta época da história".

O arqueólogo lembrou, apesar disso, que "o terremoto do ano 551 de nossa era destruiu tudo" e causou um tsunami que submergiu as cidades do litoral libanês.

Entre os destroços conservados, Jury mostra o primeiro andar de um forno, com um pilar no seu interior, mas que perdeu o segundo andar, que estava sobreposto e era utilizado para secar as peças de olaria.

Na região há também um muro, que possivelmente pode ter marcado o limite da cidade na época romana, embora não esteja completo, já que foram construídas ruas e edifícios nos seus arredores.

Esta descoberta se une a outras recentes que mostraram uma importante parte da história desta cidade mediterrânea que ainda permanecia enterrada e que mostra o seu antigo esplendor.

No último mês de março, outra equipe de arqueólogos da UL descobriu em um bairro de Beirute uma necrópole romana do século I d.C, na qual se achou uma estátua de uma esfinge, considerada como a guardiã dos túmulos, assim como outra de um leão e uma de um cordeiro.

Entre os objetos funerários achados há várias peças de cerâmicas, objetos em vidro e bronze, e algumas joias de ouro, assim como jarras de argila onde foram enterrados cachorros.

O ex-diretor da Direção Geral de Antiguidades (DGA), Assad Seif, declarou à Efe que os "elos" fenício, romano, bizantino, árabe e otomano foram moldando a estrutura da cidade e a idiossincrasia de seus habitantes.

"Estas culturas formam uma parte da nossa história que devemos assumir e tomar como um elemento de solidez da nossa identidade para seguir avançando rumo a um futuro melhor", comentou Seif.