A 'datcha' de Stalin, o refúgio de campo do ditador soviético
Ignacio Ortega.
Moscou, 30 out (EFE).- Sochi, um balneário paradisíaco às margens do Mar Negro, foi o local escolhido pelo ex-ditador da União Soviética, Josef Stalin, para erguer sua 'datcha' - a casa de campo e veraneio dos russos - favorita, um lugar no qual passou grande parte de seu tempo entre 1936 e sua morte em 1953, e que nos permite lançar um olhar sobre a vida austera do antigo líder soviético.
"Esta é a estátua de cera de Stalin. É muito parecida com o original", diz uma guia russa em mandarim fluente para um grupo de turistas chineses, que não param de tirar fotos.
Os chineses são os principais "clientes" da 'datcha', um lugar de peregrinação para os que sentem nostalgia do regime soviético e dos turistas que descansam nos vários resorts da região.
Stalin tinha mais de 20 'datchas' à sua disposição, a maioria delas perto do Mar Negro, seja na Crimeia ou no Cáucaso, mas nunca chegou a pisar em muitas delas, enquanto a de Sochi era sua preferida.
O ditador costumava chegar no fim do verão e não deixava o local até o fim de ano, quando retornava ao Kremlin ou a sua 'datcha' nos arredores de Moscou, com a exceção da Segunda Guerra Mundial, quando enviou sua família para este refúgio e permaneceu em Moscou.
Stalin sofreu um ataque cardíaco e tinha problemas respiratórios, por isso os médicos lhe recomendaram os banhos curativos no sul, mas os períodos em que ele passou em Sochi nunca foram férias propriamente ditas, já que nunca parou de trabalhar.
O único pedido expresso que fez a seu arquiteto pessoal foi que o pátio não tivesse uma fonte, já que o déspota nascido na Geórgia não gostava delas.
Ainda hoje é difícil encontrar a 'datcha', já que, desde a sua construção, ela está cercada por uma densa vegetação por motivos de segurança, pois Stalin estava obcecado com uma possível tentativa de assassinato.
Apesar de uma decoração extremamente sóbria, a construção é de grande qualidade, pois muitos dos quartos estão conservados em perfeito estado 80 anos depois, e onde foram utilizadas as melhores madeiras do país (carvalho, faia e nogueira).
A visita começa em seu escritório, onde é possível ver sua mesa de trabalho, com sua estátua de cera, à qual quase todos os visitantes se aproximam para tirar fotos, e uma poltrona de cor preta à prova de balas.
Na mesa estão vários objetos pessoais, entre os quais se destacam seu cachimbo, suas famosas botas de cano alto e um jogo de escrivaninha de prata, presente de Mao Tsé-Tung, além de um mapa da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
O quarto inclui uma cama estreita, porque Stalin gostava de trabalhar à noite e cochilar de vez em quando. Porém, o ditador mudava frequentemente o seu local de repouso por motivos de segurança.
Essa é a razão pela qual também não havia tapetes em todo o edifício, já que isto, além de cumprir com a bíblica austeridade stalinista, evitava que os intrusos passassem despercebidos, pois seus passos poderiam ser ouvidos.
Nos quadros expostos nas paredes é possível ver Stalin vestido de generalíssimo, mas também há várias fotos do líder com sua esposa, seus filhos e netos, além de com Mao Tsé-Tung e da famosa imagem com Franklin Roosevelt e Winston Churchill na Conferência de Yalta, que data de fevereiro de 1945.
Embora não pudesse praticar esportes, pois tinha o braço esquerdo praticamente imobilizado e mancava, Stalin era um grande amente da sinuca, o que fica evidente com a grande mesa que se conserva intacta na mansão, e dos banhos ao ar livre.
A piscina, que seus empregados enchiam com água do mar trazida em baldes, já que Stalin nunca mergulhava na costa, também se transformou numa peça de museu com seus ladrilhos brancos.
Outra de suas diversões era jogar xadrez com seus assessores na sacada e, em algumas ocasiões, sair para caçar nos arredores.
No entanto, nem tudo era lazer. Stalin costumava receber seus principais assessores numa sala de reuniões no segundo andar, cujo teto impressionante de madeira de lei foi construído de forma côncava para gerar eco, já que o ditador falava muito baixo e com forte sotaque caucasiano.
Palmeiras, bananeiras e outras árvores exóticas rodeiam o edifício, que se destaca por sua cor verde-camuflagem e que, após a condenação do culto à personalidade de Stalin em 1956, foi saqueado e transformado em local de descanso dos membros do comitê central do Partido Comunista da União Soviética.
Embora seja um lugar popular entre os turistas, especialmente no ano do centenário da Revolução Russa, as autoridades não têm pressa para transformá-lo em um museu, e uma das guias, em defesa do ditador georgiano, afirma que "o terror vermelho foi idealizado por Lênin".
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