Topo

Em São Paulo, Ai Weiwei define drama de refugiados como "crise moral"

19/10/2017 19h55

São Paulo, 19 out (EFE).- Em passagem pelo Brasil, onde abriu oficialmente a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta quinta-feira, o artista e ativista chinês Ai Weiwei definiu o drama mundial dos refugiados como uma "crise humana e moral" ao comentar sobre seu documentário "Human Flow", apresentado pela primeira vez no país.

A obra, que retrata o problema de migrantes em mais de 40 campos de refugiados, foi a primeira exibida na mostra em São Paulo, onde o artista desembarcou diretamente de Nova York.

A produção contou com uma "aproximação e reconhecimento pessoal" de Weiwei em relação aos refugiados, já que sofreu perseguição do governo chinês, e sua família viveu em exílio interno por mais de uma década.

"Eles são transparentes, não são ninguém e ninguém os reconhecem, nem mesmo como refugiados. Eles gastam uma vida inteira como ninguém; eles simplesmente não existem e nem têm identidade", declarou o artista em entrevista coletiva realizada após a exibição.

Segundo Weiwei, desde o início das gravações, em 2014 no Iraque, ele se perguntava por que estava fazendo o filme, e o questionamento foi a principal motivação para desvendar histórias chocantes de refugiados que são apresentadas em cerca de 150 minutos.

O trabalho do artista é classificado globalmente como um ativismo pelos direitos humanos com forte conotação política, e "Human Flow", segundo ele, é mais uma forma de se "envolver socialmente" com problemas invisíveis e que correm o risco de aumentar pelo que define como crescimento "de uma direita conservadora no mundo".

Aos 60 anos, Weiwei continua fazendo críticas aos regimes neoliberais espalhados pelo mundo através de seu trabalho, que chama a atenção por onde passa, especialmente, pela sensibilidade às fragilidades humanas.

O artista já foi preso em 2011, na China, sob acusação de sonegação fiscal, quando começou a rascunhar as primeiras ideias do documentário. Por ser considerado um artista de oposição, ainda sofre com a repressão de suas obras na China. Antes dele, seu pai, o poeta Ai Qing, também foi preso e exilado com a família pelo Partido Comunista da China.

O chinês vive atualmente em Berlim, onde tem um estúdio de arte, e já expôs em museus de prestígio, como a Tate Modern, em Londres, além de ser um dos designers do Estádio Olímpico de Pequim, conhecido como Ninho do Pássaro.

Na capital alemã, apesar de não falar a língua nativa, ele conta que vive como um "refugiado privilegiado" que tem espaço e liberdade para trabalhar com arte, o que foi motivo para a concepção da produção sobre a crise de migrantes.

Na empreitada de retratar os refugiados, Weiwei conta que foram mais de 300 entrevistas e 900 horas gravadas e ainda em processo de edição para futuros lançamentos.

"A curiosidade que me estimulou a produzir o documentário foi entender como as pessoas eram forçadas a deixarem suas casas e como é o tratamento em relação a elas, que muitas vezes não recebem ajuda nenhuma", contou Weiwei sobre sua inspiração para filmar a chegada dos refugiados e como eles são organizados nos campos em países como Grécia e Turquia.

"Human Flow" foi apresentado pela primeira vez neste ano no 74ª edição do Festival de Veneza, e no Brasil será distribuído pela Paris Films.

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo acontece até o dia 1º de novembro.