Topo

De Szyszlo deixa grande legado como precursor da arte abstrata

10/10/2017 03h09

Fernando Gimeno.

Lima, 10 out (EFE).- O artista plástico Fernando De Szyszlo, que faleceu na segunda-feira, em Lima, aos 92 anos, foi o pintor peruano mais reconhecido do século XX, principal precursor da arte abstrata no Peru e um dos seus maiores bastiões na América Latina, cujas obras de temática indígena estão em museus de prestígio. como os de Nova York e Madri.

De Szyszlo, que tinha Mario Vargas Llosa como melhor amigo, morreu ao lado de Liliana Yávar, de 96 anos, sua esposa durante os últimos 29 anos de sua vida, em um aparente acidente doméstico cujas circunstâncias não foram ainda detalhadas, ocorrido na casa do artista, onde ainda pintava quadros.

Com a pintura e a escultura como suas disciplinas prediletas, De Szyszlo conseguiu sintetizar a arte, mitos e símbolos do antigo Peru com arte abstrata e outras tendências modernistas, através de uma linguagem não figurativa com a qual ele invadiu a cena artística nacional e internacional.

Este é o caso de Inkarri (1968), considerada sua obra-prima, ao representar simbolicamente, com formas abstratas de fortes tons vermelhos e pretos, o mito onde o último inca, despedaçado pelos colonizadores espanhóis, recompõe seu corpo e derrota aos invasores para restaurar novamente o Império Inca.

Inkarri é contemporânea a séries como Apu Inca Atawallpaman (1963) e Paisagem (1969), enquanto que nas duas décadas seguintes, De Szyszlo evoluiu para um expressionismo abstrato de cor forte, como se manifesta nas séries Interiores (1972), Waman Wasi (1975) e Anabase (1982).

Nascidos na capital peruana, no dia 5 de julho de 1925, De Szyszlo era filho do físico polonês Vitold De Szyszlo e de María Valdelomar, irmã do célebre escritor peruano, Abraham Valdelomar, e foi criado no bairro boêmio de Barranco, que abriga inúmeros artistas e escritores peruanos.

Embora ele tenha decidido em um primeiro momento por estudar arquitetura na Universidade Nacional de Engenharia (UNI), abandonou essa carreira para se concentrar na arte e se integrar na Escola de Artes da Pontífice Universidade Católica do Peru (PUCP), onde teve como professor ao pintor expressionista austríaco Adolf Winternitz.

Em 1947, criou ao lado do poeta Emilio Adolfo Westphalen a revista "Las Moradas" sobre a vida cultural no Peru, que foi publicada por dois anos, e também realizou sua primeira exposição, com uma clara influência cubista, seguida de mais de uma centena mostras no Peru, América Latina, Estados Unidos e Europa.

Apenas dois anos depois de sua primeira amostra, se casou com a destacada poetisa peruana Blanca Varela e teve dois filhos, Vicente e Lorenzo, o segundo deles morto em um acidente de avião em 1997, o que lhe causou uma profunda dor.

No mesmo dia de seu casamento com Blanca, viajou para Paris, onde estudou de maneira autodidata aos pintores clássicos e esteve em contato com o surrealismo, informalismo e abstracionismo.

Durante sua estadia na França, também conheceu intelectuais como o mexicano Octavio Paz, o francês André Breton e o romancista argentino Julio Cortázar.

Em seu retorno para Lima, exerceu uma grande influência nas artes peruanas através do seu trabalho como docente da Escola de Arte da PUCP, cargo que exerceu entre 1956 e 1976.

Além disso, foi professor visitante das universidades Cornell, Yale e Texas, nos Estados Unidos.

Depois de se divorciar de Blanca Varela, De Szyszlo casou-se com Liliana Yávar em 1988, com quem foi encontrado morto, ontem, na sua casa, após compartilhar com ela últimos anos de sua vida.

Embora ele nunca tenha militado em nenhum partido político, De Szyszlo sempre se declarou "liberado da esquerda sem dogmas", razão pela qual ele mostrou um forte compromisso com a política, ao ponto de participar em 1987 na fundação do Movimento Liberdade, ao lado do amigo Vargas Llosa.

Nos últimos anos, sempre se manifestou contra o governo do ex-presidente Alberto Fujimori, que atualmente está preso, e até alguns dias atrás se dizia contrário a qualquer tipo de indulto que o isentasse da pena de 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.