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Jennifer Lawrence: "O ser humano acha que tem direito a tudo"

Enrique Rubio

Paris (FRA)

29/09/2017 11h06

Assim como a personagem que interpreta em "Mãe!", a atriz americana Jennifer Lawrence percebeu, através da fama, o quão incessável é o ser humano e que, muitas vezes, ele "acha que tem direito a tudo".

Em "Mãe!" desfilam Caim e Abel, o "O Anjo Exterminador", de Luis Buñuel, e uma série de alegorias e metáforas que seria possível escrever um livro.

O filme do também americano Darren Aronofsky, de 48 anos, provocou reações muito variadas. Tem quem considere o longa a obra-prima do diretor e quem a classifique como a pior filme do século, mas isso Lawrence já imaginava.

"Esperava que fosse polarizadora, controversa, porque é uma agressão. É o filme mais visceral que existe. Algumas pessoas não querem ver e nem sentir isso, então estávamos preparados para que algumas pessoas odiassem", diz ela, em entrevista à Agência Efe em Paris.

Para a jovem atriz, que aos seus 27 anos é uma das maiores estrelas de Hollywood da atualidade, Aronofsky pretende refletir exatamente sobre o quão "insaciável" a humanidade é.

"Isso é mais fácil de ver e se mostra muito mais evidente com a fama, porque você percebe que o ser humano acha que tem direito a tudo", pondera Lawrence, que, apesar amar o contato com os fãs, acha fundamental o respeito ao "espaço pessoal".

A personagem que ela interpreta na recém-lançada produção é uma mulher enclausurada em uma casa de campo junto com o marido, um escritor (Javier Bardem), imerso em uma crise de inspiração. Estranhos personagens - interpretados, entre outros, por Michelle Pfeiffer e Ed Harris - começam a invadir a casa do casal de forma inexplicável, em uma espiral de nefastas consequências.

"É a primeira vez que faço um personagem tão diferente de mim. Em outros papéis tive que acentuar diferentes facetas da minha personalidade, mas desta vez somos totalmente diferentes. É a primeira vez que tive que construir um papel do nada", explica.

Ela confessa que em alguns momentos chegou a se perguntar se era a atriz adequada para o papel, mas todas as perguntas desapareceram quando ela chegou à casa onde a história acontece e quando colocou o figurino.

Sobre Bardem, Lawrence só tem elogios. "Só de ver os trabalhos anteriores eu já sabia que não tem um momento sequer em que ele não seja completamente real. E também é muito doce... um autêntico cavalheiro", conta.

Já o diretor afirma à Efe que "Mãe!" é "exatamente o filme que ele queria fazer".

"Sempre soubemos o que estávamos fazendo. Queríamos empurrar os limites do que se espera no cinema. Sempre tentamos criar experiências diferentes e isso foi o que fizemos aqui, uma viagem numa montanha-russa muito diferente tudo", explica.

Ao mesmo tempo em que admite a influência de Buñuel na sua produção, Aronofsky defende que o surrealismo está presente no cinema há muito tempo.

"Nos 70, os meus heróis faziam filmes ultrarrealistas. Nos anos 80 e 90, outros dos meus heróis faziam filmes de fantasia. Ou seja, não é novidade usar alegorias ou metáforas para contar uma história", esclarece.

Para ele, se as pessoas sempre reclamam que todos os filmes são iguais, não é ruim quando alguém oferece algo diferente, neste caso uma atípica parábola sobre a voracidade do ser humano.

"O inferno são os outros", como escreveu o filósofo Jean-Paul Sartre? "Esse teria sido um bom título provisório para o filme!", responde Aronofsky, gargalhando.