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No Irã, mulheres recorrem a truques para dançar ritmos latinos proibidos

27/08/2017 06h05

Marina Villén.

Teerã, 27 ago (EFE).- Para os ulemás da República Islâmica do Irã, qualquer tipo de dança é proibido, especialmente para as mulheres. No entanto, muitas delas se movem ao ritmo da zumba e da salsa em academias recorrendo a diversos truques.

Não é estranho ouvir em festas particulares ou nos carros os grandes sucessos latinos, mas as autoridades iranianas decidiram reforçar a guerra contra esta influência que consideram "contrária aos valores islâmicos".

A zumba, de origem colombiana, sempre esteve na mira do Ministério do Esporte, que neste verão voltou a soar um alarme de atenção lembrando que seu ensino nas academias é proibido.

Durante este mês de agosto aconteceu inclusive a prisão de seis jovens acusados de ensinar zumba e gravar videoclipes com a intenção de mudar o "estilo de vida" da República Islâmica e instigar as mulheres a não se cobrirem com o tradicional véu.

Estas circunstâncias levaram algumas academias de Teerã consultadas pela Agência Efe a suspender de forma temporária as aulas, enquanto outras simplesmente mudaram a prática de nome. Assim, a zumba pode ser encontrada sob a definição de "esporte com música".

Há ainda outras precauções. Em nenhum centro esportivo são dadas informação sobre estas aulas por telefone, e elas não são incluídas nos programas públicos, mas poucos querem cancelar a prática de zumba, uma das aulas mais populares e procuradas nas academias de mulheres.

Fatemeh, filha de um importante clérigo, é um dos casos surpreendentes de amantes da zumba. Vestida com um rigoroso chador (véu preto que cobre da cabeça aos pés), declarou à Efe que esta dança lhe traz "energia e alegria".

No seu caso, a academia mudou o nome de zumba para "aeróbica rítmica" tanto no programa como no canal da rede social Telegram na qual vendiam roupa para esta prática com o objetivo - conforme disse - de "não ter problemas".

Apesar de ser uma mulher de fortes convicções religiosas, Fatemeh se mostra muito crítica com esta decisão dos ulemás iranianos. "O islã não proíbe a dança, mas eles têm seu próprio islã, o da República Islâmica", lamentou.

O argumento das autoridades é de que a zumba inclui "movimentos rítmicos e de dança, e estes são ilegais sob qualquer forma e nome", segundo a carta publicada no último mês de junho pela Federação Geral de Esportes.

O presidente da entidade, Ali Maydarah, destacou que há dois anos foi iniciada uma investigação sobre esta prática, razão pela qual "nenhuma academia tem permissão para dar estas aulas".

As iranianas sabem disso, mas parecem dispostas a enfrentar as dificuldades. Zahra, uma mulher de 30 anos que abriu uma academia há apenas cinco meses, confessa que a zumba é uma das práticas que quer incluir junto com a salsa, proibida desde o início por se tratar claramente de uma dança.

De fato, o ritmo caribenho já aparece no seu programa, mas citado com uma abreviatura: "É um risco, se chegarem inspetores, posso ter problemas, mas decidi incluir a salsa porque sabia que teria sucesso", contou ela à Efe.

"São ridículas estas proibições contra qualquer tipo de dança. A salsa sempre esteve proibida e a zumba, ainda que lembre à aeróbica, era mal vista desde o princípio", acrescentou Zahra.

A aeróbica está permitida porque é considerada um esporte. As autoridades também costumam fazer vista grossa com o balé e algumas danças clássicas ou tradicionais iranianas, mas outro ritmo que perseguem é o hip hop.

As aulas de Zahra, da mesma forma que sua academia, são apenas para mulheres. Como falamos de uma dança em casal, a professora se adapta para ensinar os passos básicos soltos e depois montar coreografias.

Inconcebível é dar aulas de dança a homens e mulheres lado a lado. Quem opta por esta modalidade o faz às escondidas e assumindo grandes riscos devidos à segregação de sexos imposta no Irã.

A jovem iraniana Moyde ofereceu durante três anos aulas de salsa de forma "clandestina" em um apartamento alugado sem nenhum tipo de distinção, já que as academias são obrigadas a ter horários diferenciados para homens e mulheres.

Moyde relatou à Efe que acabou abandonando sua paixão - agora só tem alguns alunos particulares - pelas dificuldades. O medo de ser detida pela polícia se algum vizinho a denunciasse a levou a concluir que "não vale a pena tanto stress".