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"Últimos Dias em Havana" leva olhar atual e intimista de Cuba ao Cine Ceará

11/08/2017 16h53

Victor Machado

Fortaleza, 11 ago (EFE).- O desejo de emigrar por parte de alguns e a vontade de outros de permanecer em Cuba com o sonho de promover mudanças são explorados com profundidade pelo diretor cubano Fernando Pérez em "Últimos Dias em Havana", que foi exibido na noite de quinta-feira no Cineteatro São Luiz pela 27ª edição do Cine Ceará, em Fortaleza.

O filme, que está na disputa pelos troféus Mucuripe na Mostra Competitiva Ibero-Americana de Longa-Metragem do festival cearense, tem estreia prevista para o dia 24 de agosto nos cinemas brasileiros.

Para resumir a temática do longa com bom humor, o ator Jorge Martínez utilizou a expressão "mais do mesmo, mas diferente", visto que é comum produções cubanas abordarem em tom crítico e fortemente político a emigração e as dificuldades vividas pelos cidadãos do país.

A história foca na relação entre dois amigos que moram juntos em um cortiço. Diego (Martínez) é extrovertido e sonha aproveitar a vida, mas vive enclausurado no quarto e imóvel na cama por conta da Aids. Por outro lado, Miguel (Patricio Wood) lava pratos em um restaurante e exala negatividade, mas cuida carinhosamente do amigo enquanto aguarda um visto para emigrar aos Estados Unidos.

"Acho que sempre haverá a necessidade do ser humano emigrar. Cuba não é um país fácil para se viver, posso entender que muitos tenham motivos, mas sair é um processo muito traumático, e meu personagem não sabe nadar", comentou Wood sobre a ambição de Miguel para deixar o país, desejo partilhado por muitos compatriotas.

De acordo com o ator, a grande obstinação do personagem que interpreta é um sinal de que "Miguel não emigrou e já está emigrando, só não sabe ainda para onde vai, mas que tem de sair de Cuba".

"Só conhecemos Cuba, falta para nós a contextualização das coisas. Eu não pude vir para cá (Brasil) por conta própria, conheci o mundo graças à minha carreira", relatou Wood, ao sustentar com argumentos empíricos a amargura de Miguel.

Uma das preocupações de Jorge Martínez para o filme foi evitar a criação de uma caricatura ao viver Diego, que é homossexual e convive com o sofrimento por causa da doença. No entanto, o ator improvisou para construir o personagem.

"O diretor queria que meu personagem fosse eloquente, e eu achei que seria fácil demais ficar caricato. Eu me lembro que fazia muito calor na casa onde gravamos e que a proprietária me emprestou um leque. Como eu não podia me mexer da cintura pra baixo, passei a usá-lo no personagem", contou.

Na opinião de Martínez, a obra mostra de forma quase documental a realidade atual de Cuba, com um relato do cotidiano de uma população mais humilde, inclusive com a utilização de não atores em papéis de destaque.

"Só há duas cenas com figurantes, o resto é cinema livre. Os rostos de Havana, as pessoas não sabem que estão sendo filmadas. Essa é Havana, a que fica a poucos metros da Havana turística. Fernando (Pérez) não tem carro, ele vai andando por Havana e entra em lugares que não conhecemos. Toda essa sensibilidade é colocada no filme", descreveu.

A cerimônia de premiação da 27ª edição do Cine Ceará, que também contará com uma homenagem ao cinema chileno, será realizada na noite nesta sexta-feira, no Cineteatro São Luiz.