Ivan, o Terrível, vira estátua na "calçada dos governantes" de Moscou
Anush Janbabian.
Moscou, 2 ago (EFE).- Ivan, o Terrível, um dos czares mais controversos na história da Rússia, ressuscitou em Moscou em forma de estátua, erguida na entrada da "calçada dos governantes", que reúne os bustos de bronze de 33 dirigentes do país.
"É um dos personagens da nossa história que injustamente caíram no esquecimento", afirmou o autor da obra, Vasili Selivanov, ao apresentar oficialmente a escultura, colocada no recinto da Sociedade Militar-Histórica da Rússia, no centro de Moscou.
A enorme figura do cruel monarca abre agora a entrada da alameda onde há alguns meses se instalaram os bustos de czares, duques e governantes da Rússia até a Revolução, feitos em bronze pelo famoso escultor Zurab Tsereteli.
Selivanov reconheceu que Ivan, o Terrível, é uma figura "muito controversa", "complexa" e "multifacetada", mas assegurou que justamente isso o encorajou a aceitar o desafio artístico.
"Durante três anos fiz diversos rascunhos até conseguir o resultado desejado", explicou Selivanov.
O monumento ao czar russo, que dirigiu os destinos do país entre 1547 e 1584, foi colocado inicialmente no último mês de abril na cidade de Alexandrov (região ocidental russa de Vladimir), onde Ivan IV viveu mais de 15 anos durante seu reinado.
No entanto, uma hora após sua instalação, a estátua desapareceu do pedestal perante as críticas da vizinhança.
Três meses depois, a obra do escultor Selivanov reapareceu no centro de Moscou, tornando-se a primeira estátua de Ivan, o Terrível, nesta cidade e a segunda em toda a Rússia.
Segundo o artista, a retirada da estátua de Aleksandrov nada tem a ver com sua acolhida pela população local, mas sim unicamente com a decisão das autoridades.
"Espero que a estátua possa voltar ao local ao que pertence", disse Selivanov, ao indicar que se prevê que o monumento permaneça em Moscou por um ano.
Enquanto o escultor falava com a imprensa, dezenas de pessoas se reuniam em torno do monumento, entre curiosos e membros de sociedades históricas, desejosos de fazer uma "selfie".
Também chegaram os motociclistas do famoso clube "Lobos da Noite", admiradores do atual presidente russo, Vladimir Putin.
Uma admiradora do trabalho de Selivanov e da figura de Ivan IV depositou aos pés da estátua um grande ramo de rosas vermelhas.
"Moro aqui ao lado e não entendo o rebuliço que causou a estátua", disse à Agência Efe o moscovita Dmitri, que acrescentou que não pode dizer "nada de ruim" sobre o controverso monarca e que não acredita em tudo que a imprensa escreve porque "deve-se ler as fontes originais".
"Agora dizem que (Ivan IV) não matou seu filho e pode ser que realmente não o tenha feito, ainda que antes se dizia o contrário", exemplificou.
Recentemente, a hipótese que inocenta Ivan, o Terrível, do assassinato do seu filho foi seguida por Putin. "Realmente, não se sabe se (Ivan IV) matou ou não seu filho, muitos pesquisadores sustentam que não o fez", disse o chefe de governo russo.
O historiador Yuri Viazemski opinou que há vários tipos de memória, e que esta não necessariamente deve ser "alegre e positiva", para justificar o "retorno" a Moscou de quem muitos veem como um carrasco.
Durante o reinado de Ivan IV, a Rússia conquistou vastos territórios desde o mar Cáspio até a Sibéria ocidental, chegando quase a duplicar os seus domínios, mas a repressão e a fome provocaram uma grave crise social que esteve a ponto de desintegrar o incipiente Estado.
O debate em torno da figura do controverso monarca foi retomado na Rússia no ano passado após a inauguração da primeira estátua em sua honra no país, erguida na cidade de Oriol.
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