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Vale de Tehuacán-Cuicatlán: a joia mexicana candidata a Patrimônio Mundial

29/07/2017 06h02

Nuria Monreal Delgado.

Puebla (México), 29 jul (EFE).- País de grande biodiversidade e contrastes, o México conta com um espaço enigmático e único no mundo que abriga uma enorme riqueza biológica, geológica, cultural e histórica: o Vale de Tehuacán-Cuicatlán, candidato a entrar na Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O local é uma valiosa reserva de cactos e espécies em risco de extinção, como a águia-real. Para o guia do Jardim Botânico Comunitário Helia Bravo Hollis, Juan Diego Hernández Cortés, a região é "uma das florestas mais raras do mundo", onde existem, aproximadamente, 1.500 cactos em 1 hectare.

A superfície de 145.255 hectares fica dentro da Reserva da Biosfera Tehuacán-Cuicatlán, que, por sua vez, abrange 490.186 hectares distribuídos em 30 municípios do estado de Oaxaca e 21 de Puebla. Atualmente, pesquisadores têm 2.700 espécies de vegetais documentadas, das quais 12% são endêmicas; ou seja, só existem na reserva.

"São espécies que só tem aqui. Algumas muito antigas, com centenas de anos", disse ele à Agência Efe.

As altas temperaturas, na média dos 40 graus no verão, e a falta de chuva, às vezes por mais de um ano, criam as condições ideais para o desenvolvimento de todo tipo de cacto. Na reserva estão 45 das 75 espécies que existem no mundo todo. Cactos que alcançam até 12 metros de altura, desafiam o calor e o tempo. O lento crescimento os transformam em organismos centenários, que crescem de um a três centímetros por ano.

Os mais comuns são os "tetechos", cacto em forma de coluna com ramificações e que pode alcançar os 10 metros de altura. Estes gigantes se misturam aos "viejitos", "candelabros", "epífitos" e "espantasuegras".

"Estas espécies têm se adaptado e podem viver até um ano sem água, porque têm a capacidade de armazenar o que captam nos talos", explicou o guia do Jardim Botânico, que fica dentro da reserva.

Quanto à fauna, estudos reportam 18 espécies de peixes e 25 de anfíbios, que em comparação aos desertos de América do Norte e da Austrália são considerados de grande diversidade. Também existem 78 espécies de répteis, como lagartos, iguanas e cascavéis, e mais de 336 tipos de aves sobrevoam estas paisagens, entre águias, mochos e corujas.

Segundo Hernández, as aves ajudam os cactos com as pragas. Esse é, por exemplo, o caso do pica-pau.

"Ele se aproxima, escuta onde está o barulho, começa a bicar, retira o verme e come. É uma ajuda mútua entre animal e vegetal", esclareceu.

Sob o Sol implacável, mais de 131 espécies de mamíferos caminham por esse imenso espaço. Do total, 11 são endêmicas da reserva.

"Temos coiote, cariacu, puma e jaguar nas montanhas mais altas, além de alguns gatos-selvagens e javalis", acrescentou.

Área natural protegida desde 1998, dentro da Reserva da Biosfera Tehuacán-Cuicatlán vivem alguns povos indígenas que encontraram e adaptaram suas formas de lidar com a terra, as plantas e os animais, gerando uma tradição cultural milenar respeitada pelos atuais habitantes. A história da região remonta a 66 milhões de anos atrás, quando a água salgada cobria esta extensa superfície em um imenso braço de mar que se ligava ao Golfo do México.

O movimento das placas tectônicas deu origem as montanhas e a água desapareceu, fazendo nascer uma zona cada vez mais árida, mas cheia de minerais no subsolo. Fósseis de organismos marítimos, poços de água salgada e canteiros de ónix, mármore e quartzo ao longo de todo o vale confirmam o passado cataclísmico da região.

Agora, o México impulsiona a inscrição do "Vale de Tehuacán-Cuicatlán: hábitat originário da Mesoamérica" como Bem Misto na Lista de Patrimônio Mundial da Unesco. O pedido será analisado durante a 42ª sessão do Comitê de Patrimônio Mundial, que acontecerá entre junho e julho de 2018.

Caso consiga a nomeação, o Vale de Tehuacán-Cuicatlán se somará à extensa lista de lugares emblemáticos do México considerados Patrimônios da Humanidade. Hoje em dia, o país conta com 51 locais declarados como Patrimônio Mundial pela Unesco, sendo 12 bens naturais, 37 culturais e dois mistos.