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Paleoarte, a arte de imaginar a Pré-História

25/07/2017 06h00

Carmen Rodríguez.

Madri, 25 jul (EFE).- Ainda que ninguém tenha visto um diplodoco ou um tiranossauro rex, existe um consenso sobre o aspecto que essas criaturas tinham há milhões de anos. Um imaginário coletivo que aprofunda suas raízes na paleoarte, uma vertente pouco conhecida e, em algumas ocasiões, esquecida.

A paleoarte, apesar do que o nome sugere, não tem nada a ver com os desenhos rupestres. Trata-se de visões modernas do que foi o mundo há milhões de anos. Uma arte que combina o conhecimento científico com grandes doses de criatividade e imaginação.

Uma viagem através da história desse estilo, desde a sua criação, em 1830, até 1990, é o que proporciona o livro "Paleoarte. Visões do passado pré-histórico" (Taschen), assinado pela escritora Zoë Lescaze e pelo pintor Walton Ford.

O livro inclui cerca de 200 reproduções de obras de arte - pinturas, gravuras, desenhos, esculturas, mosaicos e murais - resgatadas de arquivos, coleções particulares e dos principais museus de História Natural do mundo.

O cientista inglês Henry de la Beche pintou em 1830 a primeira peça de paleoarte, "Duria Antiquitor", uma aquarela com pouco mais de 30 centímetros de largura, "violenta e fantástica, um canto à selvageria primordial representada com delicadas pinceladas de cor marrom, azul, verde e rosa", escreve Lescaze.

De la Beche se baseou em evidências fósseis e na sua imaginação para dar forma a animais que ninguém tinha visto antes e desde então artistas de todo o mundo "recriaram dinossauros, mamutes, homens das cavernas e outras criaturas, conformando nossa compreensão do passado primitivo".

Imagens de pterodáctilos, gorgossauros e massospondylus que com frequência lutam até a morte, testemunho imaginário da extrema dureza da vida pré-histórica, reproduzidas a tinta, gravuras, pintura a óleo, azulejos e cerâmica vitrificada.

Os primeiros artistas se inspiraram em uma longa tradição de invenção de monstros, evocando dragões, esfinges, hidras e harpias, e a paleoarte evoluiu influenciada pelas tendências de cada época: o romantismo, o impressionismo, o fauvismo e a art nouveau.

Obras que costumam ser encontradas em museus de história natural e universidades, mas que foram usadas em livros didáticos, enciclopédias, revistas científicas, figurinhas em barras de chocolate e livros infantis, criando um imaginário coletivo que chegou até o cinema.

A paleoarte se desenvolveu com nomes como Benjamin Waterhouse Hawkins, que mostrou a pré-história ao público vitoriano com suas grandes esculturas, o americano Charles R. Knight e o alemão Heinrich Hader, que com sua inspiração na art nouveau tirou o estilo dos ambientes científicos para levá-lo ao seu auge.

A obra mais conhecida talvez seja o colossal afresco "A idade dos répteis" (1943), de Rudolph Zallinger, encomendada para renovar a galeria de fósseis do Museu Peabody (EUA), que retrata a pré-história desde o período Devoniano até o Cretáceo, quase 300 milhões de anos.

Uma arte que viveu outro dos seus momentos de glória com o regime soviético, cujos trabalhos estão entre os mais espetaculares já produzidos, especialmente "A árvore da vida" (1984), de Alexander Mikhailovich Belashov, um mosaico colossal que abrange o tempo geológico e está repleto de animais.

Lescaze e Ford também destacam no livro um dos grandes nomes da paleoarte, a norte-americana Ely Kish, que na segunda metade do século passado tornou famosos seus animais tentando sobreviver e morrendo em um mundo ameaçado pelas condições climáticas extremas.

"Este livro - resume Ford - é uma máquina do tempo com dois pontos de chegada, como em uma dessas histórias em quadrinhos de ficção científica que tanto gostava quando era menino. Ele nos permite voltar alguns anos para observar o aspecto que os tempos remotos tinham no passado".