Topo

Depois de batalha contra censura, filme feminista estreia na Índia

22/07/2017 06h00

Moncho Torres.

Nova Délhi, 22 jul (EFE). - O ousado "Lipstick Under My Burkha", que conta a história de quatro mulheres que se rebelam contra o seu destino na conservadora sociedade indiana, foi lançado ontem na Índia depois de vencer a batalha contra o órgão censor, que tinha negado a liberação de exibição por conta das "contínuas cenas sexuais".

"Estou muito feliz que enfim tenha conseguido estrear. Fico aliviada", disse à Agência Efe a diretora do longa, Alankrita Shrivastava, durante um ato em Nova Délhi pouco antes da primeira exibição em uma das salas do país.

Independente e distante da monumental indústria de Bollywood, a produção estava predestinada a ter uma vida curta no circuito indiano, mas tamanha foi a polêmica gerada pela proibição que hoje "Lipstick Under My Burkha" está nos cinemas de toda a Índia.

A diretora reconheceu que a proibição da Comissão Central de Certidão Cinematográfica (CBFC), o órgão de censura, "talvez" tenha ajudado na divulgação, mas disse que não era algo que estivesse buscando.

"Não é uma sensação agradável saber que existe um órgão em cima de você tentando estabelecer os conteúdos que as pessoas podem ou não ver", afirmou ela, avaliando que, no entanto, a polêmica levantada pela proibição abriu espaço para debates sobre "a mulher e sexualidade" na imprensa e nas redes sociais.

O filme aborda muitos tabus na sociedade indiana, como os pensamentos eróticos de uma viúva, o sonho de uma jovem muçulmana em se tornar cantora pop ou o de fuga de uma menina com o namorado.

Para o órgão censor, essa "história destinada a mulheres e sobre as suas fantasias na vida", como definiu no relatório final em janeiro, não podia ir para os cinemas por causa das "cenas das sexo, dos termos usados, dos sons pornográficos e por ser insensível com uma parcela da sociedade".

Com a negação do CBFC foi aberto um processo que culminou em abril com a decisão favorável do Tribunal de Apelação de Certidão Cinematográfica, ainda que com algumas restrições. De acordo com a sentença da Corte de Apelação, o CBFC tinha se enganado ao dizer não alegando que o filme era "destinado a mulheres".

"Não pode ter proibição alguma a um filme por ser voltado para mulheres ou conter fantasias sexuais, e a manifestação dos desejos íntimos delas", sentenciou o Tribunal, que, no entanto, pediu que as "longas cenas sensuais" fossem reduzidas, mas "sem interferir na história".

Assim, a cena em que uma mulher faz sexo pelo telefone com um jovem, sem cenas de nudez, mas com "expressões e movimentos usados de maneira efetiva", por exemplo, passou de 54 para 29 segundos.

Com esses cortes, o filme chegou ontem aos cinemas com classificação "A" - só para adultos -, um avanço dentro da tradição do país do Kama Sutra, onde até os beijos costumam ser censurado.

"Foi uma longa luta, mas acho que foi importante não nos damos por vencidos e conseguir a estreia. Se a proibição tivesse continuado, abririam precedentes errôneos que diriam que é possível calar filmes como este", declarou a diretora.