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Companhia latino-americana encenará "Morte e Vida Severina" em Paris

A peça "Vida e Morte Severina" - Divulgação
A peça "Vida e Morte Severina" Imagem: Divulgação

De Paris (França)

25/05/2017 17h20

A companhia teatral latino-americana d'Amaü encenará nesta sexta (26), no Teatro da Bastilha de Paris, a obra "Morte e Vida Severina", do poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999), na qual se narra a viagem de um emigrante que foge da seca e da fome.

Incluída no festival "Acte et Fac", essa será a primeira vez que a peça será representada em um grande teatro da França desde a década de 1960.

Sob a direção da argentina Magdalena Bournot (Córdoba, 1990) e da brasileira Mariana Camargo (São Paulo, 1989), a obra usa uma encenação na qual os elementos teatrais se misturam com os cinematográficos para retratar a problemática universal do imigrante.

A novidade é que na versão da companhia d'Amaü é uma mulher, Severina, ao invés de um homem, Severino, o protagonista de João Cabral de Melo Neto.

"Escolhemos uma atriz para representar Severino, porque a figura universal do imigrante se associou quase sempre ao homem, mas hoje em dia, mais do que nunca, as mulheres migram tanto quanto os homens", declarou Bournot à Agência Efe.

A obra que estreia amanhã escolhe várias imagens do árido e agreste sertão brasileiro do poema original para abordar a crise migratória atual.

Isso porque na pele de Severina, representada pela própria Mariana Camargo, se encontram atualmente milhões de mulheres e homens que, como a personagem principal, fogem das "terras secas" na busca da cidade grande.

Assim, o Recife da obra é também a Paris, a Londres e a Berlim dos nossos dias.

"Há uma imagem que tratamos, a da oração com o rosário de Severino, na qual se expressa a relação do migrante com as cidades de destino, de um caminho que é tortuoso", comentou a diretora argentina.

Trata-se também da primeira vez que o clássico do poeta brasileiro é traduzido ao francês, pois a representação realizada nos anos 60 na França foi feita integralmente em português.

"Na obra vamos do português ao francês a partir de um texto que, por sua complexidade, é muito difícil de acompanhar apenas com legendas, portanto decidimos fazer certas cenas em português para manter a sonoridade original e certa em francês para que se possa acompanhar melhor", comentou Bournot.

Esta é a terceira obra montada na França pela companhia argentino-brasileira d'Amaü, depois de "Dona Rosita", baseada na obra teatral "Doña Rosita la soltera o el lenguaje de las flores", de Federico García-Lorca, e "Electra Garrigó".