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Albânia abre museu dedicado à temível espionagem da ditadura comunista

25/05/2017 06h00

Mimoza Dhima.

Tirana, 25 mai (EFE).- Pela primeira vez desde a queda da ditadura, os albaneses poderão ver em um museu os aparelhos de escuta com os quais a polícia secreta de um dos mais temíveis regimes comunistas, a Sigurimi, controlou suas vidas durante quase meio século, entre 1946 e 1991.

O museu, situado na Casa com Folhas, nome que ganhou por causa das trepadeiras que crescem em sua fachada, foi inaugurado esta semana pelo primeiro-ministro Edi Rama.

"O museu é um grande patrimônio que dá possibilidade a todos de ter contato físico com o passado, sem intermediários", disse Rama durante a cerimônia.

Desde 1956 e até 1991 este edifício central de Tirana foi justamente a sede dos dois departamentos mais importantes do Serviço de Segurança do Estado (Sigurimi), segundo explicou à Agência Efe o engenheiro Nesti Vako, ex-responsável pelo setor de técnica operacional.

O primeiro era o encarregado dos meios de escuta, e o segundo tinha como objetivo a vigilância física de suspeitos e do pessoal das embaixadas estrangeiras, onde Vako trabalhou 23 de seus 71 anos de vida.

Em um dos 31 quartos da casa museu estão expostos diferentes tipos de microfones, que eram instalados dentro dos muros das embaixadas, escritórios, hotéis e residências de pessoas "de atividade suspeita".

O paradigma por excelência destas escutas era, sem dúvida, microfones de pequeno tamanho, popularmente conhecidos como "percevejos", que eram escondidos com mestria em lapelas, bolsos e roupa de baixo dos agentes para vigiar e controlar o inimigo "interno e externo".

No prédio, que tem dois andares e foi restaurado recentemente, ficava também um escritório de onde se interceptavam e se controlavam as ligações telefônicas, cujos aparelhos, ainda funcionais, fazem parte da exposição.

"A tecnologia era usada para verificar a informação colhida pelos agentes no terreno", esclareceu Vako.

Cada operador da Sigurimi criava sua própria rede de espiões recrutando agentes e informantes, que em algumas ocasiões provinham dentre os próprios perseguidos políticos.

Alguns relatórios, com nomes apagados, dos agentes da Sigurimi estão também à vista do visitante no museu.

Após romper relações com a China no final dos anos 70, como tinha feito anteriormente com Iugoslávia e União Soviética, o ditador stalinista Enver Hoxha proclamou a Albânia o "único país socialista do mundo" e o isolou hermeticamente do resto do planeta.

Para se manter no poder se serviu desta polícia secreta que, segundo dizia, era a "arma mais aguda e amável do partido porque defende os interesses do povo contra os seus inimigos".

Durante a época comunista foram executadas por motivos políticos 5.500 pessoas, 12.870 foram presas, e outras 21 mil foram deportadas para campos de trabalho forçado, e os seus nomes ocupam agora as paredes de um dos quartos do museu.

"Contra o inimigo não há concessões, nem piedade, nem temor a cometer erros", declarava Hoxha, que morreu em 1985.

Entre os 50 funcionários da Casa com Folhas, todos com "boa biografia" e que souberam guardar segredo de seu trabalho, havia alguns que se dedicavam à abertura de envelopes particulares enviados e recebidos pelos correios para detectar possíveis cartas escritas contra o regime comunista, um dos mais duradouros da Europa do Leste.

"É muito excepcional que haja um museu no mesmo lugar onde aconteceram os fatos", disse à Efe a arquiteta italiana encarregada da reforma do museu, Elisabetta Terragni.

Terragni explicou que o museu, com os seus objetos expostos unidos por uma narrativa, não serve para intimidar as pessoas, mas para reconstruir a história e o passado.

Há um equilíbrio entre a ironia e os fatos mais difíceis, concluiu a arquiteta.