Cinema lembra distúrbios raciais que paralisaram Los Angeles em 1992
David Villafranca.
Los Angeles (EUA), 26 abr (EFE).- Passados 25 anos desde os distúrbios de 1992 em Los Angeles, diversos filmes lembram este episódio de protestos raciais, raiva e desespero que deixou a cidade californiana à beira do caos durante vários dias.
Spike Lee, com "Rodney King", John Singleton, com "LA Burning: The Riots 25 Years Later", e John Ridley, com "Let It Fall: Los Angeles 1982-92", são alguns dos cineastas que aproveitaram a ocasião para refletir sobre incidentes que comoveram o país e que revelaram a face oculta do sonho americano: racismo, injustiça, miséria e brutalidade policial.
Seja por meio de um intenso estudo de antecedentes feito por Ridley, adotando uma estética usual de documentário como Singleton, ou usando, como Lee, a "performance" artística como veículo de expressão, os três centram seu olhar em como a sentença do caso de Rodney King desatou a ira da comunidade negra de Los Angeles perante o racismo da sociedade e das autoridades.
Em março de 1991, o afro-americano Rodney King foi brutalmente espancado por vários polícias de Los Angeles que o detiveram quando conduzia seu carro.
Apesar de esse espancamento ter sido gravado em vídeo e ter alcançado imensa repercussão midiática, no dia 29 de abril de 1992 um júri majoritariamente formado por pessoas brancas absolveu os oficiais.
Imediatamente depois, protestos da comunidade negra brotaram em bairros como South Central, e começaram os saques de lojas, o incêndio de prédios e a violência generalizada.
Durante aproximadamente uma semana, os distúrbios se estenderam a outras áreas de Los Angeles, praticamente uma cidade sem lei na qual foi declarado estado de emergência e para onde foram enviadas forças militares para controlar a situação.
Os distúrbios terminaram com um saldo de mais de 50 mortes e mais de US$ 1 bilhão em perdas econômicas.
Em 1993 foi realizado um novo julgamento, e dois dos quatro agentes envolvidos no espancamento, Stacey Koon e Lawrence Powell, foram condenados.
"Let It Fall", um detalhado documentário de quase 150 minutos de John Ridley (roteirista de "12 Anos de Escravidão"), lança o olhar pra trás e trata os distúrbios não como a explosão de um incidente isolado, mas como consequência de anos e anos de racismo e indignação contida.
Esta produção pinta a Los Angeles dos anos 80 como uma cidade pulsante com clima agradável, pessoas amáveis, estrelas de Hollywood, os Jogos Olímpicos de 1984 e os Lakers do "showtime" de Magic Johnson.
Mas, por trás dessa vitrine, se forjava, principalmente nos subúrbios da comunidade negra, a decomposição social através do racismo, das drogas, da pobreza e da violência.
"Let It Fall" recupera, além de depoimentos de testemunhas e pessoas afetadas pelos distúrbios, registros dos incidentes nas avenidas Florence e Normandie, epicentro da violência naqueles dias, bem como impactantes imagens dos imigrantes coreanos do bairro de Koreatown defendendo a tiros seus estabelecimentos perante o caos.
Por sua vez, John Singleton, que foi o diretor de "Os Donos da Rua" (1991), emprega em "LA Burning: The Riots 25 Years Later" as técnicas tradicionais do documentário televisivo.
Entre os momentos mais interessantes do filme está a presença do próprio Singleton em 1992, que foi ao tribunal escutar a resolução do caso Rodney King e que, na saída e totalmente irritado, antecipou com clarividência o que aconteceria: "O veredito é uma merda (...). Tudo isto é como uma bomba. Estamos sentados em cima de uma bomba".
Por último, Spike Lee, provavelmente o cineasta negro mais influente de Hollywood graças a filmes como "Faça a Coisa Certa" (1989) e "Malcom X" (1998), estreará o longa "Rodney King" na próxima sexta-feira na plataforma digital Netflix.
Esta produção adota a forma de um intenso monólogo a cargo do ator e roteirista Roger Guenveur Smith, que se põe na pele de Rodney King e relembra, de sua perspectiva, os fatos que dariam origem àqueles distúrbios.
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