"Guernica", grito antibelicista mais famoso do século 20, completa 80 anos
Desde que Pablo Picasso o pintou em 1937 por encomenda do governo da Segunda República para o pavilhão da Expo Paris, o quadro "Guernica" se transformou no grito antibelicista mais famoso do século 20, e agora completa 80 anos.
Por esta ocasião, o Museu Reina Sofía, onde este mural está desde 1992, celebra com uma exposição que foi aberta ao público com o título: "Piedade e terror em Picasso: o caminho a Guernica".
Com curadoria de Timothy J. Clark e Anne M. Wagner, historiadores de arte e professores eméritos da Universidade de Berkeley (Estados Unidos), a exposição se aprofunda no caminho criativo que levou Picasso a pintar este quadro em preto e branco, com uma variadíssima gama de cinzas e toques azulados e sem uma gota de vermelho, de sangue.
Nesta mostra podem ser vistas de perto 150 obras-primas do artista, procedentes dos fundos da coleção do museu e de mais de 30 instituições de todo o mundo, entre elas o Musée Picasso e o Centre Georges Pompidou, de Paris, a Tate Modern de Londres, o Moma e o Metropolitan Museum, de Nova York, além da Fundação Beyeler, de Basileia.
Esta retrospectiva tem foco também na evolução do universo pictórico de Picasso, com o "Guernica" como epicentro, desde o final dos anos 20 até meados dos anos 40 do século 20, período no qual o artista imprimiu uma mudança radical em sua obra.
Quando em 1937 o governo da República espanhola encomendou o mural a Picasso, que tinha sido nomeado em 1936 diretor do Museu do Prado, a proposta representava para ele um desafio.
A princípio o pintor espanhol não parecia encontrar motivo no qual se concentrar, talvez devido às circunstâncias da guerra, embora em janeiro daquele ano tenha feito sua primeira contribuição política como "artista popular" para a causa republicana.
Ele gravou duas grandes pranchas divididas em nove charges que constituíram uma dura crítica contra os rebeldes e que chamou: "Sonho e mentira de Franco" (I e II).
Mas em 26 de abril daquele mesmo ano, aviões alemães da legião Condor, ajudados pelos italianos, a serviço dos rebeldes franquistas, bombardearam a cidade de Guernica, em Vizcaya, que não constituía nenhum alvo militar e cuja devastação foi um ato brutal contra a população civil.
Foi então que Picasso decidiu mostrar o atroz bombardeio e o horror da guerra e, com surpreendente rapidez, entre maio e começo de junho Picasso criou o que viria a ser um dos ícones do século 20, em um mural de 349x776 centímetros, com linguagem cubista e certas deformações surrealistas.
Em Paris, onde tinha se estabelecido, Picasso fez oito versões do quadro até chegar à definitiva, na qual o cavalo ferido desafiante ocupa a posição central e o sol se transforma em luz artificial através de uma lâmpada.
O quadro não representa unicamente o bombardeio de Guernica, mas é o símbolo, a metonímia, da tragédia da guerra, onde tudo é violência, horror, dor, gritos mudos, corpos mutilados e onde uma mãe, ao lado de um touro, chora levando o filho morto em seus braços, no meio das chamas.
Em entrevista publicada no dia 13 de março de 1945 na revista americana "New Masses", Picasso aprova esta ideia ao afirmar sobre o simbolismo do quadro: "O touro não é o fascismo, mas sim a brutalidade e a escuridão".
Mais explícito foi quando, durante sua realização, manifestou: "Na pintura mural na qual estou trabalhando, e que titularei "Guernica", e em todas minhas obras, expresso claramente minha repulsa à casta militar, que afundou a Espanha em um oceano de dor e morte".
Após sua passagem pelo pavilhão espanhol da Expo parisiense, o "Guernica" viajou para Noruega, Dinamarca e Suécia, depois a Londres e depois, em 1939, por desejo de Picasso foi aos Estados Unidos a bordo da embarcação "Normandia" e foi exibido em Nova York, São Francisco e Chicago para voltar ao Moma de Nova York.
Neste museu ficou pelo desejo do pintor, que pediu em 1958 que não se movimentasse mais.
Em setembro de 1981 chegou finalmente a Madri e foi instalado no Casón del Buen Retiro. Foi exposto pela primeira vez em 25 de outubro de 1981. Onze anos depois, em 26 de julho de 1992, o quadro foi levado ao Museu de Arte Reina Sofía, onde permanece desde então.
Picasso deixou por escrito que o "Guernica" tinha que voltar ao povo espanhol quando na Espanha se restabelecessem as liberdades públicas.
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