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Crivella quebra tradição e não abre carnaval do Rio

25/02/2017 14h33

Mar Marín.

Rio de Janeiro, 25 fev (EFE).- Bispo evangélico, cantor de gospel e ex-missionário, Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro, está no olho do furacão, apenas dois meses de assumir o cargo, por colocar a religião à frente da tradição do carnaval.

Crivella se tornou o primeiro perfeito do Rio a não participar da abertura do carnaval no seu primeiro ano no cargo desde a inauguração do Sambódromo, em 1984.

Sem se atrever anunciar abertamente que romperia com a tradição, Crivella manteve a indefinição durante toda sexta-feira. À noite, quando as primeiras escolas de samba começavam a se concentrar na Sapucaí, a secretária de Cultura teve que entregar a chave da cidade ao rei Momo, na cerimônia que historicamente abre o início da festa.

Durante a campanha eleitoral, Crivella garantiu que sua fé e os dogmas da Igreja Universal não interfeririam em seu trabalho político. Depois de vencer o pleito, chegou a anunciar que a cidade teria neste ano um dos melhores carnavais da história.

Boa parte dos cariocas estava esperando a posição que seria tomada pelo prefeito, membro de um grupo religioso que recomenda que seus fiéis "fujam dos excessos" das grandes festas, como o carnaval. O tempo lhes deu razão e as críticas não demoraram a chegar.

"É o prefeito do Rio de Janeiro, de todos os cariocas, e o carnaval é o acontecimento mais importante da cidade. É uma pena que coloque a religião à frente de seu dever como prefeito", lamentou um membro de uma das escolas que abriu os desfiles no Sambódromo.

"Ele pode ter a religião, mas isso não é só uma festa. Isso envolve a cidade e ele é o prefeito", completou.

A ausência de Crivella era anunciada. Há algumas semanas, ele pediu permissão para viajar ao exterior durante os cinco dias do Carnaval.

"Entendo que, por sua religião, ele não goste de sambar nem nada, mas a presença dele é obrigatória", disse o ex-prefeito Cesar Maia na época em que começaram as especulações sobre a ausência de Crivella.

"O prefeito do Rio não tem religião, abraça todas. Não misture, senão, seu mandato e carreira política vão acabar aqui", alertava um zangado carioca nas redes sociais.

"Se ele não gosta do carnaval, não nos representa", dizia outro internauta nas redes sociais.

Na campanha, Crivella teve que pedir desculpa pelo trecho de um livro escrito por ele que qualificava a homossexualismo como uma "conduta maligna" e condenava outras religiões por considerá-las como "diabólicas".

Além disso, o agora prefeito se distanciou da Universal, liderada por seu tio, Edir Macedo, dono da "Rede Record", quando a imprensa começou a revelar que o fundador da congregação estava por trás de sua candidatura como parte de um ambicioso projeto político.

Durante a carreira, Crivella, do PRB, uma espécie de braço político da Igreja Universal, também foi senador, tentou duas vezes se eleger governador e foi ministro da Pesca de Dilma Rousseff.

Os evangélicos ganharam espaço no Brasil nos últimos anos, e, com 43 milhões de fiéis, representam 22% da população. Além disso, também possuem grande influência no Congresso, o que foi decisivo para o impeachment da ex-presidente em agosto.

Para alguns grupos, o carnaval é uma festa "pecaminosa" da qual os fiéis devem fugir. Outros aproveitam a oportunidade e lançam seus próprios blocos, com o objetivo de "proclamar as boas novas do evangelho para os que estão longe de Jesus".

Apesar da indefinição de Crivella, os blocos foram às ruas do Rio nesta sexta-feira sem esperar a passagem da chave da cidade para o rei Momo, e as escolas passaram pela Sapucaí como previsto.

"Esse é o carnaval do Rio e a festa vai adiante com ou sem o prefeito", resumiu ontem Simone, enquanto se preparava para desfilar no Sambódromo.