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Sellia: a cidade italiana de 500 habitantes e 8 museus

24/02/2017 10h00

Cristina Cabrejas.

Roma, 24 fev (EFE).- O prefeito de Sellia, um pequeno município na Calábria, no sul da Itália, acredita que sua cidade é a que mais possui espaços culturais em toda a Europa.

"Temos praticamente um museu para cada 60 habitantes", diz ele.

Por trás destes oito museus e da abertura de um eco parque previsto para o meio do ano está o seu governante, Davide Zicchinella, que luta de para que a cidade de 504 moradores não desapareça.

Pediatra de profissão, ele lança mão de termos médicos para explicar à Agência Efe que teve que usar "um tratamento de choque" porque o "tumor do despovoamento" estava muito avançado e nos últimos anos a população tinha passado do milhar a metade, e com apenas 18 crianças. O remédio do prefeito para evitar que o lugarejo morresse foi a combinação "cultura e esporte" e durante seus dois mandatos investiu as verbas da região e da União Europeia (UE) disponíveis para abrir oito museus.

Com 1 milhão de euros (mais de R$ 3 milhões) da UE destinados a incentivar o turismo e evitar o despovoamento, Sellia terá em junho um pequeno parque de aventuras com tirolesa, ecopontes e uma torre para bungee jumping.

"De uma cidade de velhos, passaremos a ser a cidade com mais adrenalina da região", diz o prefeito, que há dois anos foi criou o inusitado estatuto: "Proibido morrer", uma provocação para que os moradores de Sellia adquirissem o hábito de ir ao médico.

Zicchinella afirma que a criação das atividades culturais tem como objetivo fomentar a geração de empregos, para que os moradores não abandonem a cidade, atrair visitantes e estimular a economia. A abertura do novo parque, por exemplo, dará trabalho a dez dos 30 desempregados que tem na cidade e os resultados desses investimentos já começam a ser vistos. No ano passado, Sellia recebeu 2 mil visitantes.

"Isso é um recorde, se levarmos em conta que somos 500", afirma o prefeito.

A oferta turística também fez com que a cidade ganhasse um restaurante, dois bares e um centro hípico. Além disso, empresários do norte da Itália compraram várias casas abandonadas pelo despovoamento para transformar os imóveis em hotel.

Sellia é uma vila medieval com uma rica história, mas não tem os atrativos de outros lugares para ser convidativa ao turista, reconhece Zicchinela.

"Por isso era necessário criar atrações para que nos visitassem", argumenta.

Em Sellia fica, por exemplo, o único "Museu de História em Quadrinhos" da Calábria, com mais de 10 mil volumes italianos e internacionais. A cidade também abriga um Ecomuseu, considerado patrimônio agrícola e do meio ambiente da região, e o "Museu de Ciência Terrestre e Extraterrestre", que expõe fósseis de dinossauros, rochas de várias partes do mundo e fragmentos de meteoritos.

Outra raridade é o "Museba", o único museu dedicado às crianças em toda a Calábria e onde os pequenos podem observar e aprender se divertindo como nasce o produto mais importante desta região da Itália, o azeite.

Também se transformaram em museu dois fornos e dois moinhos de 1.800, que foram conservados intactos e onde o turista pode descobrir como era feito o pão há 200 anos e são realizadas pequenas exposições e degustações.

Mesmo com todo esse incentivo à vida cultural, Sellia não tem escolas. Elas fecharam por conta da diminuição da população. Os pequenos que circulam diariamente pelas ruas da cidade são estudantes dos colégios calabreses que vêm visitar os famosos museus.

Zicchinela conta que alguns habitantes fizeram críticas por ele investir nestas atividades culturais e não no "embelezamento da cidade ou na construção de uma praça bonita".

"Mas o que fazemos com uma praça de 3 mil euros (quase R$ 10 mil) se depois ela só será usado por dez pessoas?", questiona.

O prefeito revela que foram os idosos os que mais apoiaram os seus projetos, "porque são os que mais amam a cidade e não querem ver o seu fim" e adianta que o próximo projeto, já aprovado, é o de um museu dedicado à moda, uma nova atração que já faz Sellia ser chamada na Itália de a "cidade-museu".