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Nova descoberta acirra debate sobre origem do Exército de Terracota de Xian

26/10/2016 06h01

Adrià Calatayud.

Xian (China), 26 out (EFE).- Dois milênios após sua criação e 42 anos depois de sua descoberta, o debate sobre a origem do Exército de Terracota de Xian, na China, continua vivo e foi acirrado nos últimos dias por novos achados que apontam para uma possível influência grega.

Assim defende um grupo de arqueólogos que, depois de trabalhar em uma nova escavação, vê provas que este conjunto de mais de 7 mil estátuas de guerreiros que o primeiro imperador chinês, Qin Shihuang, construiu para seu mausoléu teve uma inspiração externa.

"Esta informação vem de um documento histórico, o Siji, sobre 12 estátuas de bronze erguidas em frente ao Palácio Qin Xianyang", explicou à Agência Efe Li Xiuzhen, uma das arqueólogas que participou dessa pesquisa.

"Outro documento histórico, o Houhansu, fala que o primeiro imperador Qin conheceu 12 gigantes do Ocidente e construiu 12 estátuas depois", acrescenta Li, do Museu do Mausoléu de Qin Shihuang de Xian.

Desde que em 1974 agricultores descobriram as primeiras peças quando cavavam um poço onde na época era a cidade de Xianyang, capital da China na dinastia Qin - fundada pelo imperador Qin Shihuang -, a origem do Exército de Terracota esteve rodeado de mistério.

Este conjunto de esculturas, um dos maiores da antiguidade, situado a cerca de 40 quilômetros da atual cidade de Xian, no norte do país, não tem precedentes na história da China, nem se conhecem casos de sucessores de Qin Shihuang que tentassem dar continuidade a tal ritual mortuário.

Com mais de 7.000 estátuas de soldados - todas com rostos diferentes e originalmente pintadas -, cavalos, carros e armas, este peculiar Exército é só uma parte separada do mausoléu, muito maior, do primeiro imperador chinês, com esculturas femininas, artistas, acrobatas e animais, em grande parte a serem descobertos.

O porquê deste monarca - que subiu ao trono com 13 anos (no ano 246 a.C.), unificou os diferentes reinos que havia então no norte da China e iniciou a construção da Grande Muralha - ter decidido fazer uma homenagem dessas proporções é algo que intriga os pesquisadores há quatro décadas.

Essa pergunta tenta ser respondida agora por um grupo de arqueólogos do Museu do Mausoléu de Qin Shihuang de Xian e da University College de Londres, que assinalaram a arte de esculturas dos antigos gregos como provável inspirador.

Li, que fez parte dessa equipe, ressaltou as referências ao Ocidente em documentos chineses antigos, embora a pesquisa, divulgada por enquanto através de um documentário da televisão pública britânica "BBC" e ainda não divulgada por revistas científicas, apresenta mais provas.

Os arqueólogos citam trabalhos prévios que demonstraram plantas de DNA europeu em esqueletos enterrados na atual região chinesa de Xinjiang (noroeste), e que poderiam indicar presença ocidental na região anterior ao reinado de Qin Shihuang.

Além disso, lembram que não há presença na China de uma tradição de esculpir estátuas de tamanho real antes dos guerreiros de Xian e que algumas das figuras de animais, acrobatas e artistas encontradas no mausoléu (separado do local onde fica o Exército de Terracota) mostram paralelismos com a arte grega.

O resultado da pesquisa sugere, assim, que os contatos entre Ocidente e China são mais antigos do que se pensava e que remontam a 1.500 anos antes das viagens de Marco Polo, anteriores inclusive às visitas de emissários do Império Romano dos séculos II e III d.C. registradas por historiadores chineses.

Esta hipótese não foi totalmente bem recebida na China e alguns arqueólogos do país expressaram publicamente suas dúvidas.

"Os Registros da Grande História proporcionam um relato escrito detalhado do processo de construção do túmulo de Qin, incluindo o projeto de todos os artigos sepultados no palácio subterrâneo e não mencionam nenhum contato ocidental com a China", disse o arqueólogo Ni Fangliu ao jornal oficial "Global Times".

Em resposta a estas críticas, Li, do Museu do Mausoléu de Qin Shihuang de Xian, se limita a assinalar que o campo de pesquisa de Fangliu são os roubos de túmulos.

Alheio a estas polêmicas intelectuais, a monumental túmulo de Qin Shihuang, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1987, se transformou em um dos principais atrativos turísticos da China desde que abriu o museu, em 1979, e recebe por dia milhares de visitantes, cerca de quatro milhões por ano.