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Refugiados e migrantes são retratos de mostra crítica em São Paulo

18/10/2016 19h19

São Paulo, 18 out (EFE).- Com um acervo de 18 fotografias com intervenção artística que retratam criticamente o tema dos migrantes e refugiados, o fotógrafo argentino Marcelo Brodsky estreia uma nova exposição em São Paulo com uma proposta de "discussão social".

"Esta exposição pretende fazer as perguntas que esta situação (de migrantes) nos apresenta: "para onde vamos" perguntam os migrantes cheios de sangue, dúvidas e possibilidades", contou Brodsky à Agência Efe.

Para o argentino, a mostra apresenta fotos poéticas sem interpretações lineares e que promovem "um diálogo sobre migração contemporânea e como a sociedade pode discutir e se relacionar com esses fatos políticos".

A mostra "Migrações" explora uma mistura de narrativas pessoais e escrituras sobre a história social dos refugiados das guerras do Iraque e da Síria que buscam lares pelo mundo, bem como as migrações da família de Brodsky, além do período de exílio na Espanha.

Segundo o autor, trabalhar com o tema é reviver sua história familiar representada na primeira parte da exposição de fotos de seus avós russos judeus, que tiveram que deixar o país no início do século XX.

A segunda parte da mostra está representada por quatro fotos do final da década de 1970, quando ele se exilou em Barcelona, que servem de testemunhos de passagens históricas dramáticas, como percebe-se na imagem "Auto exilio", feita na Praça de San Felipe Neri, local onde Franco fuzilou republicanos durante a Guerra civil espanhola.

De acordo com o artista, existe uma narrativa poética em representar os dilemas de migrantes através de fotos com um olhar artístico cultural, onde a fotografia funciona como instrumento de investigação e exposição de lembranças, traumas e questionamentos.

"Através da imagem e da cultura visual trabalhamos com as fotos de arquivo, de agência, de arte, de imprensa e todas estas constituem o que temos no contemporâneo e é um instrumento de trabalhar com comunicação, arte e ideias", detalhou o fotógrafo.

A curadoria ficou por conta de Priscila Arantes, diretora artística do Paço das Artes e curadora da exposição que está no Museu da Imagem e Som de São Paulo.

"Marcelo Brodsky é um fotógrafo conhecido por trabalhar com temas relacionados aos direitos humanos e períodos históricos marcados pela violência do Estado. Nesta mostra, ele aproxima processos migratórios de diversos momentos, tecendo diálogo com sua história particular", disse Priscila Arantes, que classifica a mostra como uma 'poética de documentação'.

A curadora explica, ainda, os três eixos da mostra: imagens de migrantes que se deslocam para a América latina no século XX, imagens do exilio, baseadas na experiência pessoal do fotógrafo, e por ultimo migração mediterrânea, como o caso dos gregos.

Quatro das imagens dos refugiados africanos e sírios são do acervo da Agência Efe e passaram pela intervenção artística do olhar crítico e atento de Brodsky sobre o "lado mais contemporâneo" e recente das migrações.

O artista destacou ainda a importância da presença do mar em suas obras e influências como uma metáfora do migrante, "símbolo de união e trânsito, texto e linguagem".

As obras de Brodsky já passaram por museus nacionais e internacionais e muitas fazem parte de importantes coleções públicas e privadas.

Um de seus projetos mais conhecidos no Brasil é Buena Memoria (Boa Memória), que foi exibido na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2012.